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Por que a Coreia do Sul perdoou o corrupto ‘Príncipe da Samsung’

Lee Jae-yong, condenado por suborno e peculato em 2017, é visto por Seul como colete salva-vidas contra a recessão pós-pandemia no país

Por Amanda Péchy
Atualizado em 12 ago 2022, 12h57 - Publicado em 12 ago 2022, 12h56

O herdeiro da Samsung, Lee Jae-yong, é um dos criminosos de colarinho branco mais poderosos da Coreia do Sul. Preso duas vezes por subornar um ex-presidente, foi condenado por suborno e peculato em 2017. Mas o príncipe dos eletrônicos, contra todas as expectativas, acaba de receber um perdão presidencial especial.

O governo da Coreia do Sul justificou a medida na quinta-feira 11, dizendo que Lee – o líder de fato da maior empresa do país – precisava voltar ao comando da Samsung para liderar a recuperação econômica pós-pandemia.

Mais do que uma decisão controversa, o perdão de Lee marca mais uma reviravolta na luta para decidir como o país é governado. Essa discussão nasceu quando protestos em massa tomaram Seul há seis anos e derrubaram a então presidente Park Geun-Hye, aos quais os crimes de Lee estavam diretamente ligados.

O “Príncipe Herdeiro da Samsung” – como foi apelidado pelos manifestantes – pagou US$ 8 milhões em subornos à presidente Park, no cargo de 2013 a 2017, e um de seus associados para garantir apoio a uma fusão contestada pelos acionistas da Samsung, que reforçaria seu controle do império familiar.

Quando o escândalo foi revelado, milhões de sul-coreanos compareceram a protestos à luz de velas todos os fins de semana no fim de 2016 e começo de 2017, exigindo o fim do governo de Park e a costura entre política e negócios.

O parlamento da Coreia fez o impeachment de Park e ela foi presa em 2017 por 25 anos.

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Lee, que também é conhecido como Jay Y Lee no Ocidente, foi preso um ano depois por uma lista de crimes (o príncipe, inclusive, desviou de fundos da empresa para comprar um cavalo de US$ 800.000 para a filha do amigo do presidente).

Um novo presidente, Moon Jae-in, assumiu o cargo com a missão de limpar a bagunça – mas não conseguiu avançar muito. Em seus últimos dias como presidente, ele concedeu um perdão presidencial a Park.

Agora, oito meses depois, sob outro presidente, Yoon Suk-yeol, o chefe da Samsung também foi agraciado com a mesma piedade. Para os que lutam contra a corrupção no país, é um golpe desanimador.

O caso de Lee também reafirma o senso comum na Coreia do Sul, onde 10 conglomerados gigantes respondem por cerca de 80% do PIB, de que os grandes empresários são intocáveis ​​e estão acima da lei. Dos chaebols, impérios familiares que fornecem uma gama de serviços (LG, Hyundai, Lotte, SK), a Samsung é o maior e mais poderoso.

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Globalmente, é a maior fabricante de smartphones do mundo. Mas, em casa, faz muito mais: hospitais, hotéis, planos de saúde, outdoors, estaleiros e até parques temáticos.

A Samsung e outros chaebols são tão onipresentes que são conhecidos como empresas “polvo”, cujos tentáculos há muito se infiltraram nos níveis mais altos da política coreana. Essas empresas ganharam amplo apoio do governo após a Guerra da Coreia, com regalias como contras de eletricidade mais baratas e incentivos fiscais. Também foi lançada a política “Compre-Coreia”, para incentivar o consumo de produtos locais.

Os monopólios resultantes dos incentivos, contudo, esmagaram a concorrência, sufocaram os movimentos trabalhistas e suas práticas geraram décadas de casos de suborno e corrupção – nos quais, na maioria dos casos, executivos recebem apenas sentenças leves, que costumam ser suspensas depois. Juízes chegam a alegar que a economia do país sofreria demais com a retirada de um CEO dos chaebols.

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O próprio pai de Lee, Lee Kun-hee, foi condenado por suborno e fraude na década de 1990, quando era presidente da Samsung. Mas ele não cumpriu um único dia de prisão. Em 2017, quando Lee filho foi sentenciado a cinco anos de prisão, os ativistas esperavam que o caso marcasse um divisor de águas. As comemorações, no entanto, duraram pouco.

No campo de batalha judicial, um tribunal de apelações o libertou, depois um tribunal superior ordenou um novo julgamento, no qual ele foi novamente considerado culpado e preso, mas apenas alguns meses depois de sua segunda prisão, ganhou liberdade condicional.

Desde então, ele voltou a ser o líder da Samsung em todos os sentidos, exceto no papel. Chegou, inclusive, a conhecer o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em uma visita comercial à Coreia do Sul.

Lee ainda enfrenta uma série de acusações criminais: manipulação de avaliações de empresas, fraude contábil, tomada de decisões comerciais da Samsung (em violação às condições de sua sentença). O perdão presidencial significa que ele poderá retomar totalmente suas responsabilidades executivas.

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O perdão do governo a Lee baseia-se no argumento de que os líderes dos chaebols são necessários para a economia, mas analistas dizem que a Samsung se saiu muito bem, obrigada, durante o entra e sai de Lee na prisão. Defensores da reforma dizem que a Coreia do Sul, onde o crescimento vem desacelerando há anos, também precisa acabar com sua dependência dos chaebols.

Ainda assim, as críticas sobre o perdão de Lee não são compartilhadas pelo público sul-coreano mais amplo. Uma recente pesquisa de opinião registrou 70% de apoio ao perdão, delatando uma preocupação profunda com uma possível recessão – além do orgulho que a população sente da Samsung como representante de seu país perante o mundo.

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