A indústria de vinhos da Itália se prepara para uma queda brusca na produção, um reflexo da devastação das plantações por fungos, alastrados pela seca seguida de intensas chuvas durante o mês de maio. Como resultado, a Itália perderá sua posição de maior produtor mundial de vinho para a França, após nove anos liderando o ranking.
“A colheita que enfrentamos é muito complexa, caracterizada sobretudo pelos efeitos das alterações climáticas que no final da primavera e início do verão causaram doenças patogénicas como o míldio, inundações, granizo e seca”, explicou Riccardo Cotarella, chefe da Associação dos Técnicos Vitivinícolas Italianos (Assoenologi), em comunicado.
O fungo Plasmopara viticola provoca uma doença nomeada míldio da uva, responsável por atacar as folhas e os órgãos das videiras, destruindo-as por completo em diferentes regiões italianas. O organismo foi encontrado pela primeira vez nas Américas, há cerca de 190 anos, e prospera em condições quentes e úmidas. As condições extremas enfrentadas pela Itália nos últimos meses, com termômetros de Roma marcando 41,8°C, propiciaram o surgimento dos fungos em maio, quando as uvas estão se formando.
+ As mudanças climáticas vão alterar a qualidade do vinho que tomamos?
Em entrevista à Reuters, o pequeno agricultor Paolo Niro, dono de um cultivo de 14 hectares ao redor da cidade de San Paolo di Civitate, na Apúlia, perdeu toda a sua colheita. Por optar por produções orgânicas, sem agrotóxicos, sua plantação foi golpeada pelo “ataque [do fungo] mais cedo”, explicou Niro.
O epicentro da devastação está situado na região ao longo da costa do Adriático. As áreas de Abruzzio, famosa pelo vinho tinto Montepulciano d’Abruzzo, e Molise perderam 40% e 45% de sua produção, respetivamente. Por sua vez, Puglia, lar do tinto Primitivo, reduziu em 25%. Ao todo, o sul da Itália, que engloba Sicília e Basilicata, perderá 20% do cultivo, segundo os dados de previsão de colheita.
Calcula-se que, em média, 12% da produção em todo o país seja afetada, em comparação aos dados do ano passado, de acordo com os lobbies do vinho UIV e Assoenologi e o instituto agrícola ISMEA. A produção italiana deverá ser minimizada para 44 milhões de hectolitros este ano, contras os 50 milhões de 2022.