Policiais e manifestantes entram em choque na Catalunha
Pelo menos 74 pessoas receberam atendimento médico, 37 em Barcelona
Barcelona foi cenário, nesta terça-feira 15, de uma violenta batalha entre policiais e separatistas catalães, denunciada de forma contundente pelo governo espanhol, no segundo dia de protestos na região contra a condenação de nove líderes do movimento.
Pela noite, lixeiras em chamas iluminavam o elegante bairro de Gracia, onde algumas ruas próximas estavam bloqueadas por barricadas, com registros de confrontos entre policiais e manifestantes, que lançavam garrafas, pedras e objetos em chamas.
A emissora de TV regional exibiu também uma ação da polícia contra os separatistas que participavam de protestos em Girona, Tarragona e Lleida, onde foram convocadas manifestações com velas em frente das representações locais do governo espanhol.
“A violência desta noite está sendo generalizada em todos os protestos”, denunciou através de um comunicado o governo do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
“É evidente que não estamos diante de um movimento popular pacífico, e sim de algo coordenado por grupos que utilizam a violência nas ruas para romper a convivência na Catalunha”, acrescentou.
Pelo menos 74 pessoas receberam atendimento médico, 37 em Barcelona, onde três pessoas foram detidas, de um total de quatro na região, segundo fontes oficiais.
Em Barcelona, num ato que reuniu cerca de 40 mil pessoas, segundo autoridades locais, a polícia avançou contra centenas de manifestantes, entre eles muitos jovens com os rostos cobertos por lenços e máscaras, que responderam lançando garrafas, pedras e sinalizadores, além de acenderem fogueiras diante de um cordão de isolamento formado por agentes de segurança na frente de um prédio do governo central.
“Vejo a situação pior, muito pior do que há dois anos” quando houve uma tentativa de secessão nesta região, declarou Pedro Mayor, responsável pela segurança de um hotel em Gracia. “O problema é que isto vai mais longe”.
“Não há como parar a mobilização, ela vai continuar”, advertiu Javier Martínez, um bancário de 60 anos no protesto de Barcelona. “É necessário forçar para que se tenha um diálogo e que o Estado venha conversar”, acrescentou.
Invasão do aeroporto
Os protestos começaram na véspera, um dia após o Tribunal Supremo condenar 12 líderes do movimento separatista de 2017, incluindo nove que receberam penas de entre nove e treze anos de prisão.
Seguindo o exemplo dos manifestantes pró-democracia de Hong Kong, a misteriosa associação Tsunami Democrático fez uma convocação para paralisar o aeroporto de Barcelona, e cerca de 10 mil pessoas, segundo o governo espanhol, foram no início da noite para o aeroporto tentar bloquear os acessos ao terminal.
Durante horas foram registrados confrontos com a segurança do local, que avançou contra a multidão disparando balas de borracha e espuma.
Cerca de 150 voos foram cancelados, muitos passageiros não puderam desembarcar e centenas deles passaram a noite no aeroporto, segundo a entidade gestora do serviço aeroportuário espanhol (Aena). Os efeitos duraram até a tarde desta terça, com 45 voos cancelados.
Para esta quarta estão previstos novos atos de protesto em diferentes pontos da região, que devem culminar com uma grande passeata prevista para sexta-feira em Barcelona, no mesmo dia para o qual foi convocada uma “greve geral”.
Governo central não prevê indultos
Após quatro meses de julgamento e outros quatro de deliberação, os juízes do Supremo Tribunal decretaram penas de prisão de 9 a 13 anos para nove acusados na fracassada tentativa de secessão de outubro de 2017.
O ex-vice-presidente regional catalão Oriol Junqueras recebeu uma pena de 13 anos de prisão, a maior sentença contra os separatistas processados.
Três antigos conselheiros (ministros regionais) foram condenados a 12 anos; outros dois ex-conselheiros a 10 anos e meio; a ex-presidente do Parlamento regional a 11 anos e meio, e dois líderes do ativismo separatista a nove anos.
Além disso, após a condenação, a promotoria emitiu um novo mandado de prisão por sedição e peculato com base nos mesmos crimes contra o ex-presidente regional Carles Puigdemont, que fugiu para a Bélgica após a tentativa de secessão.
Perto das eleições legislativas previstas para 10 de novembro, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez mostrou firmeza diante dos separatistas
Segundo Sánchez, as penas serão cumpridas integralmente, enquanto o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, descartou qualquer tipo de indulto.
Apesar disso, a lei prevê a possibilidade de liberdade em poucos meses para os dois ativistas, Jordi Sánchez e Jordi Cuixart. Esta decisão depende da administração regional, nas mãos dos separatistas.
A questão da independência da Catalunha divide os 7,5 milhões de habitantes desta rica região espanhola. Segundo uma pesquisa publicada em julho por um instituto ligado ao governo catalão, 44% dos catalães querem a independência, enquanto 48,3% são contrários à iniciativa.