Na terça-feira 15, uma testemunha ligada ao cartel do narcotraficante Joaquin Guzman, conhecido como “El Chapo”, afirmou a autoridades americanas que o criminoso pagou 100 milhões de dólares em propina ao ex-presidente do México Enrique Peña Nieto.
Alex Cifuentes, que disse ter sido braço-direito de Guzman, detalhou o suposto suborno sob acareação com um dos advogados do traficante, Jeffrey Lichtman, em um Tribunal Federal no Brooklyn. Perguntado sobre uma informação que ofereceu durante interrogatório em 2016, em que El Chapo teria armado o pagamento, ele afirmou que a história “está correta”.
Segundo a Reuters, Peña Nieto e seu porta-voz não quiseram comentar o assunto. Em ocasiões anteriores, o político havia negado receber propinas.
Por outro lado, o chefe de Estado de seu governo usou as redes sociais para refutar a acusação. “As declarações do traficante colombiano em Nova York são falsas, difamatórias e absurdas”, escreveu Francisco Guzman em um post no Twitter, acrescentando que o governo de Peña Nieto foi responsável por “localizar, deter e extraditar” o criminoso mexicano, chefe do Cartel de Sinaloa.
As alegações de Cifuentes estão entre os resultados mais fortes do julgamento de Guzman, que começou em novembro e, até o momento, contou com testemunhos de crimes mais leves.
Joaquin Guzman, 61, foi extraditado para os Estados Unidos em 2017 para enfrentar as acusações de tráfico de cocaína, heroína e outras drogas em território americano, por meio de seu cartel.
O colombiano Cifuentes confirmou que havia dito aos promotores americanos que Peña Nieto inicialmente pediu US0 milhões a El Chapo. Em seu testemunho, ele afirmou que a propina de valor menor foi paga em outubro de 2012, quando o mexicano era presidente eleito.
Ainda segundo o sócio do traficante, Guzman teria contado sobre uma mensagem do ex-presidente dizendo que o criminoso não precisava mais viver escondido.
Conspiração
Lichtman, o advogado de El Chapo, prometeu no início do julgamento que os jurados ouviriam sobre como o narcotraficante Ismael “El Mayo” Zambada havia subornado Peña Nieto e seu antecessor, Felipe Calderón, como parte de um esquema para incriminar seu cliente. Ele afirmou que Zambada era o verdadeiro líder do cartel.
À época, Peña Nieto disse que a fala era “completamente falsa e difamatória”. Também no ano passado, o juíz Brian Cogan impediu que os advogados de Guzman confrontassem o irmão de Zambada, uma das testemunhas, sobre as supostas propinas.
Ainda não é claro como o testemunho de Cifuentes, que parece incriminar Guzman, pode ser usado para defendê-lo, mas Lichtman aponta para as inconsistências na memória do traficante, que admitiu em uma audiência de 2018 que não estava mais seguro sobre as quantias exatas envolvidas nos subornos, sem dar mais detalhes.
Peña Nieto foi presidente do México de dezembro de 2012 a novembro do ano passado. No início de sua carreira política, ele foi figura em ascensão do Partido Institucional Revolucionário (PRI) e governou o Estado do México, mais populoso do país.
Como presidente, terminou seu mandato em meio a escândalos de conflito de interesses, altas taxas de criminalidade e uma economia em crise. Seu partido, o PRI, sofreu um derrota histórica nas eleições presidenciais de 2018, com o esquerdista Andres Manuel Lopez Obrador ganhando com certa margem de vantagem.
Capturado pelo governo de Peña Nieto em fevereiro de 2014, Guzman fugiu da prisão 17 meses depois, escapando por um túnel que começava em sua cela. A fuga humilhou o governo e atingiu a já abalada credibilidade do presidente, apesar de Peña Nieto ter pessoalmente anunciado a recaptura do narcotraficante no norte do México, em janeiro de 2016.
Cifuentes é uma de cerca de doze testemunhas que já falaram contra Guzman depois de atingir acordos com a promotoria dos Estados Unidos.
(com Reuters)