O Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira, 23, vai sediar um evento que unirá história e memória da escravidão no Brasil e nos Estados Unidos. A abolição é separada por décadas entre os países — os americanos promulgaram a a Lei de Emancipação dos Escravos em 1863, ainda que os ecos do racismo se façam ouvir até hoje; os brasileiros atestaram a proibição somente em 1988, formalizada pela Lei Áurea, mas depois de anos de luta da população negra. Estima-se que, apenas no Rio de Janeiro, aportaram 2 milhões de escravizados africanos.
O conjunto de palestras é fruto do trabalho da Rede de Pesquisa Passados Presentes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Smithsonian Institution, com sede em Washington. O grupo de pesquisa brasileiro já conta com um site em que são disponibilizadas informações sobre “lugares de memória da escravidão no Brasil, acrescidas de verbetes sobre o patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro, tais como rodas de capoeira, grupos de jongo e quilombos”, de acordo com o portal do projeto.
Para tratar sobre o assunto espinhoso, estarão presentes a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Bagley, e o secretário do Smithsonian, Lonnie Bunch III. No cargo desde 2019, Bunch é o primeiro homem negro a dirigir o instituto, que reúne 21 museus e sete centros de pesquisa do governo americano. Eles serão acompanhados pela diretora-geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães Pinto, e pela historiadora da Universidade de Pittsburgh, Keila Grinberg.
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Discurso de Biden
Um ano após assumir o comando da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, destacou em discurso no Dia em Memória da Escravidão, em 19 de junho, a importância de não esquecer que a história americana é marcada pela escravização. O democrata lembrou que “milhões [de africanos] foram sequestrados e traficados”, o que definiu como “o pecado original da América”.
“As grandes nações não se escondem da sua história. Elas reconhecem o seu passado, tanto os triunfos como as tragédias. Hoje é um dia para refletir sobre o terrível custo da escravidão e sobre a profunda capacidade da nossa nação para se curar e emergir mais forte”, disse ele na ocasião.
Os Estados Unidos lucraram, e muito, com o tráfico de escravos para o Brasil. Entre 1831 e 1850, embarcações americanas corresponderam a 58,2% de todos os chamados navios negreiros rumo ao território brasileiro.