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Papa pede perdão por abusos ‘devastadores’ da Igreja a indígenas no Canadá

Viagem de 'penitência' segue reconhecimento de histórico de violências em escolas residenciais administradas pela Igreja Católica

Por Matheus Deccache Atualizado em 26 jul 2022, 16h30 - Publicado em 25 jul 2022, 15h38

Em um encontro com sobreviventes de um antigo internato para indígenas na província de Alberta, o papa Francisco renovou nesta segunda-feira, 25, um amplo pedidos de desculpas aos povos indígenas do Canadá pela política da Igreja Católica de assimilação da religião no país, marcada por abusos. As escolas residenciais administradas pelos católicos se tornaram centros de abusos, assimilação forçada e devastação cultural por mais de um século, levando a gerações de traumas e abusos.

“Estava aguardando para vir aqui, neste local que lhes causou tanta dor, e implorar o perdão de Deus, expressar meu apoio e rezar com vocês e para vocês. Eu humildemente peço perdão pelo mal cometido por tantos cristãos contra os povos indígenas”, disse o pontífice a centenas de indígenas e políticos, incluindo o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. “A lembrança daquelas crianças é extremamente dolorosa. Desperta em mim tristeza, indignação e vergonha”.

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Empurrado em uma cadeira de rodas, Francisco acrescentou que seus comentários se destinavam a “todas as comunidades e pessoas nativas” e disse que um sentimento de vergonha persistiu desde que ele pediu desculpas aos representantes dos povos indígenas no Vaticano, em abril. 

“Eu estou profundamente arrependido pelas maneiras pelas quais muitos cristãos apoiaram a mentalidade colonizadora das potências que oprimiam os povos indígenas. Peço perdão, em particular, pela maneira como muitos membros da Igreja e das comunidades religiosas colaboraram, inclusive com sua indiferença, nos projetos de destruição cultural e assimilação forçada promovidos pelos governos da época”, disse ele sob aplausos. 

As chamadas escolas residenciais do Canadá separavam as crianças indígenas dos pais e praticavam contra elas abusos físicos, mentais e sexuais, usando do cristianismo como arma para extinguir a língua local e acabar com a cultura e as comunidades dos povos nativos. A Igreja Católica chegou a ser responsável por 60% a 70% das cerca de 130 escolas do país, onde milhares de crianças foram mortas. 

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O governo canadense admitiu que o abuso físico e sexual era excessivo nas escolas cristãs financiadas pelo governo que funcionaram do século 19 até a década de 1970. Cerca de 150.000 crianças indígenas foram retiradas de suas famílias e forçadas a comparecer em um esforço para isolá-las da influência de seus lares, línguas e culturas nativas e assimilá-las na sociedade cristã do Canadá.

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“É necessário lembrar como as políticas de assimilação e emancipação, que também incluíam o sistema de escolas residenciais, foram devastadoras para as pessoas dessas terras”, disse o papa, reiterando a importância de se lembrar dos traumas, ainda que corra o risco de abrir feridas antigas. 

Francisco disse ainda que “implorar por perdão” não finaliza o assunto, concordando com os que pedem por uma investigação mais ampla que “encontre formas concretas” para ajudar os sobreviventes a iniciar um caminho para a cura e a reconciliação. 

Em um acordo judicial envolvendo o governo canadense, igrejas e cerca de 90.000 sobreviventes, ficou definido que o Canadá deveria pagar indenizações bilionárias para as comunidades indígenas. A Igreja Católica do país disse que suas dioceses e ordens religiosas forneceram mais de 50 milhões de dólares em dinheiro e contribuições em espécie, e esperam adicionar mais 30 milhões nos próximos cinco anos.

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O primeiro-ministro Justin Trudeau, que pediu desculpas pela “política governamental incrivelmente prejudicial” no ano passado, também irá participar do evento junto com outros funcionários do governo.

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Ainda nesta segunda, Francisco visitará a Igreja do Sagrado Coração dos Primeiros Povos, uma paróquia católica voltada para os povos e a cultura indígena. O local, cujo santuário foi dedicado na semana passada após ser restaurado de um incêndio, incorpora a língua e os costumes indígenas na liturgia.

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