O verão se aproxima o hemisfério norte e a retomada do turismo, que responde por cerca de 10% da economia local, virou tema prioritário na União Europeia (UE). A abertura das fronteiras internas deve acontecer a partir da próxima segunda-feira, 15. Já a retomada do fluxo de estrangeiros vindos de países que não fazem parte bloco está programada para o dia primeiro de julho.
Mas, devido ao temor de uma nova onda de contaminação do coronavírus, que derrubou as bolsas ao redor do planeta, nem todo mundo poderá cruzar as fronteiras. Na última quinta-feira, 11, a UE anunciou que vai criar uma lista especial de nações que poderão realizar viagens não essenciais à região. Já se sabe que não será permitida a entrada de viajantes que venham de locais onde a pandemia do Covid-19 não foi controlada, o que praticamente exclui o Brasil e os Estados Unidos. Outras nações correm sérios riscos.
A Comissão Europeia disse que a lista de países liberados deve ser atualizada semanalmente. O órgão já adiantou que cidadãos das nações dos Balcãs Ocidentais (Albânia, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Montenegro, Macedônia do Norte e Sérvia) estarão liberados na primeira leva, que ainda não foi completamente definida.
As decisões finais sobre a reabertura de fronteiras, no entanto, serão tomadas por cada país. A Alemanha, primeiro país a retomar suas atividades, mas que vem pregando cautela constante, avisou nesta sexta-feira 12 que não obedecerá o grupo e manterá suas fronteiras fechadas até pelo menos 31 de agosto. “Não podemos deixar que cidadãos não europeus tragam o vírus de volta”, afirmou Heiko Maas, ministro das Relações Exteriores do país. Portugal e Espanha também já indicaram que devem estender essas restrições.
Critérios para abertura aos estrangeiros
Por enquanto, foram estabelecidos os seguintes critérios: o controle da Covid-19 nestes países deve ser equivalente à média da UE; os países em questão deverão implantar medidas de contenção durante as viagens e, em contrapartida, permitirem a entrada de viajantes europeus em seu território, seguindo um acordo de reciprocidade.
Para determinar o nível de controle da pandemia em cada nação, serão levados em conta o número de casos diários da doença, a tendência de crescimento das infecções e as políticas do governo de combate ao vírus – como testes em massa, rastreamento de contatos e medidas de distanciamento social. Em todas elas, o Brasil vai muito mal. Segundo o levantamento em tempo real da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, o país tem mais de 802.000 casos confirmados e mais de 40.000 mortes causadas pela Covid-19.
Os casos de contaminação recentes são um fator importantíssimo: enquanto a União Europeia tem média de 179 nas últimas 24 horas, o Brasil é o campeão da lista, com mais de 30.000 casos.
Utilizando dados da universidade, VEJA comparou os 20 países com mais casos registrados (o Brasil é o segundo) com a média dos 27 países da União Europeia e elaborou uma tabela classificando a situação da pandemia como sendo “controlada”, “descontrolada” e “suspeita”. Foram usados como base o número de casos confirmados, número de mortes, casos confirmados nas últimas 24 horas e casos confirmados a cada 1 milhão de habitantes.
Os casos de contaminação recentes são o fator mais relevante: enquanto a União Europeia tem média de 179 no último dia, o que lhe permite reabrir as portas, o Brasil é o campeão da lista, com mais de 30.000 casos.
Na tabela, os países considerados “controlados” são aqueles com maior chance de receber sinal verde. A maioria dos casos é suspeita, por apresentarem ao menos um dado alarmante na tabela. Brasil, EUA, Rússia , Índia e Chile estão hoje com números “descontrolados”, o que sugere que não estarão na primeira lista. Pelo levantamento, penas Canadá e China atenderiam aos critérios da UE.
Casos confirmados | Mortes | Casos em 24h | Casos por milhão | Status | |
Média UE | 43.000 | 4.700 | 179 | 2.100 | Controlado |
EUA | 2.000.000 | 114.000 | 22.900 | 6.200 | Descontrolado |
Brasil | 802.000 | 40.900 | 30.400 | 3.800 | Descontrolado |
Rússia | 510.000 | 6.700 | 8.000 | 3.400 | Descontrolado |
Índia | 297.000 | 8.400 | 10.900 | 219 | Descontrolado |
Reino Unido | 294.000 | 41.500 | 1.300 | 4.400 | Suspeito |
Peru | 214.000 | 6.000 | 6.000 | 6.600 | Descontrolado |
Irã | 182.000 | 8.600 | 2.000 | 2.100 | Descontrolado |
Turquia | 175.000 | 4.700 | 900 | 2.000 | Suspeito |
Chile | 160.000 | 2.800 | 5.600 | 2.800 | Descontrolado |
México | 133.000 | 15.900 | 4.800 | 1.000 | Suspeito |
Paquistão | 125.000 | 2.400 | 12.000 | 575 | Descontrolado |
Arábia Saudita | 119.000 | 893 | 3.700 | 3.500 | Suspeito |
Canadá | 99.000 | 8.100 | 439 | 2.500 | Controlado |
China | 84.000 | 4.600 | 7 | 59 | Controlado |
Bangladesh | 81.000 | 1.900 | 3.200 | 464 | Suspeito |
Catar | 76.000 | 70 | 1.500 | 27.000 | Suspeito |
África do Sul | 58.000 | 1.200 | 3.100 | 996 | Suspeito |
Bielorússia | 52.000 | 298 | 750 | 935 | Suspeito |
Equador | 45.000 | 3.800 | 523 | 2.500 | Suspeito |
Colômbia | 45.000 | 15.900 | 4.800 | 915 | Suspeito |
Há, no entanto, diversas dúvidas em relação à primeira lista. Uma delas diz respeito à China, país que costuma levar milhares de turistas à Europa. Apesar de ter a situação controlada, com menos de dez casos de contaminação por dia, o país vem sendo constantemente acusado por autoridades internacionais de promover uma campanha de desinformação e de não ter cooperado como devia no início da pandemia, ocorrida no fim do ano passado, na cidade chinesa de Wuhan. Nesta semana, a própria Comissão Europeia fez duras críticas ao governo de Xi-Jinping, o que pode ser um indício de represálias.
Quem também deve ficar de fora é a Rússia. Com número crescente de infecções (cerca de 8.000 nas últimas 24 horas), o país governado por Vladimir Putin é constantemente acusado de maquiar dados. Recentes recontagens feitas na capital Moscou mostraram que o número de mortos no mês de maio foi quase três vezes maior que o anteriormente divulgado. O país, assim como a China, também vem sendo acusado pela UE de promover desinformação.
Um país que chama atenção no levantamento é o Catar. O pequeno território peninsular árabe tem o maior índice de contaminados: cerca de 27.000 casos a cada milhão de habitantes, cerca de sete vezes mais que o Brasil, mas, por outro lado, conta com ótima rede de saúde, o que resultou em apenas 70 mortes.
Peru, Irã, Chile, Paquistão e Bangladesh são outros cuja situação parece estar descontrolada, enquanto diversos outros, como Índia e Arábia Saudita enfrentam suspeitas graves de subnotificação e, por isso, também devem ficar de fora.
A situação do Reino Unido, que tem as taxas de contaminação mais altas da Europa, também não está clara. O controle de fronteiras é um dos principais pontos do Brexit e os líderes dos dois lados têm encontrado dificuldade para fazer valer o acordo que possibilitou a saída do reino do bloco econômico. Uma conferência entre Boris Johnson e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para tratar do assunto, está marcada para a próxima segunda-feira 15.
A Comissão espera garantir uma abordagem coordenada entre todos os estados membros e recomenda que as medidas sejam aplicadas uniformemente em todo o bloco. “Isso tem que ser feito passo a passo. Essa lista aumentará, talvez não dia após dia, mas pelo menos talvez semana a semana”, disse Ylva Johansson, Comissária dos Assuntos Internos da União Europeia.
De acordo com a proposta da Comissão, viajantes poderão visitar o bloco com base no local de residência, não na nacionalidade (brasileiros que vivem em países liberados, portanto, poderão entrar). Além disso, não precisarão passar por uma quarentena obrigatória de 14 dias na chegada.
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(Com Reuters)