Organizações internacionais acusaram Israel nesta terça-feira, 12, de não cumprir com as exigências do ultimato feito pelos Estados Unidos para ampliar a ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Com prazo de cumprimento de 30 dias, as demandas americanas foram enviadas em carta dos secretários de Estado e Defesa dos EUA ao governo israelense em 13 de outubro — ou seja, há quase um mês. O descumprimento poderia levar a sanções contra Tel Aviv.
“Israel não apenas não atendeu aos critérios dos EUA que indicariam apoio à resposta humanitária, mas simultaneamente tomou ações que pioraram dramaticamente a situação no local, particularmente no norte de Gaza”, apontou o levantamento independente divulgado pelas organizações. “Essa situação está em um estado ainda mais terrível hoje do que há um mês.”
Por trás da coalizão estão oito entidades: American Near East Refugee Aid (Anera), Care, MedGlobal, Mercy Corps, Norwegian Refugee Council (NRC), Oxfam, Refugees International e Save the Children. O estudo estabeleceu três cores para avaliar o sucesso israelense em atender às exigências dos EUA: verde, amarelo e vermelho, como num semáforo.
Dos 19 requisitos, 4 foram parcialmente atendidos (amarelo), enquanto os 15 restantes obtiveram status de “não conformidade, atrasos significativos ou retrocesso” (vermelho). Entre os pedidos de Washington que em nada foram atendidos, estão a revogação de ordens de retirada quando não existir “necessidade operacional” e a permissão de uma entrada diária de ao menos 350 caminhões por dia em Gaza, através das quatro passagens principais, abrindo também uma quinta.
Outras demandas marcadas de vermelho incluem a implementação de “pausas humanitárias adequadas em toda Gaza, conforme necessário, para viabilizar atividades humanitárias, incluindo vacinações, entregas e distribuição, por pelo menos os próximos quatro meses” e a permissão “ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) (de ter) acesso às pessoas detidas em conexão com o conflito”.
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Declarações dos EUA
Em contrapartida, Israel alegou nesta segunda-feira, 11, que atendeu à maioria das solicitações americanas e que a quinta passagem seria aberta em alguns dias, embora tenha destacado a continuidade do cerco contra a UNRWA, a principal agência das Nações Unidas para palestinos. Os EUA, por sua vez, não divulgaram um parecer sobre a efetividade israelense. As sanções, se implementadas, poderiam culminar na pausa temporária de assistência militar e no envio de munições.
No entanto, o secretário de Estado, Antony Blinken, disse nesta terça-feira a um alto funcionário de Israel que o país havia dado passos para a melhora da situação no enclave palestino, informou a pasta. Em movimentação recente, Tel Aviv ampliou a “zona humanitária” em Gaza com o suposto objetivo de reduzir a superlotação e permitir que deslocados saiam da costa no inverno.
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Situação em Gaza
Os ataques israelenses à Faixa de Gaza não mostram sinais de abrandamento. Apenas na noite desta segunda-feira, uma cafeteria foi atingida em Khan Younis, deixando 11 pessoas mortas, entre elas duas crianças, segundo o hospital Nasser. Até o momento, mais de 43 mil palestinos foram mortos desde o início da guerra entre Israel e o grupo radical Hamas, em outubro do ano passado.
Da ajuda humanitária que chega ao enclave, 40% é roubada em alguns dias, ao passo que funcionários da ONU estimam que o saque esteja na casa de um terço de tudo que chega ao território, de acordo com o jornal britânico The Guardian. Em outubro, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indicou que o conflito levou a maior parte dos palestinos à pobreza e recuou os indicadores de qualidade de vida da Faixa de Gaza para a década de 1950.
O estudo do PNUD indicou um encolhimento de 35% da economia dos territórios palestinos — ou seja, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia — desde o início da guerra, em outubro do ano passado. Além disso, o nível de pobreza se aproxima da marca de 100%, enquanto o de desemprego está em 80%. Estima-se que cerca de 1,8 milhão de pessoas em Gaza estejam em situação de fome extrema, das quais 133 mil enfrentam insegurança alimentar “catastrófica”.
Mesmo com a manutenção da ajuda humanitária internacional, sem interrupções, o enclave levaria uma década para reerguer sua economia para os níveis anteriores aos ataques israelenses. O custo do reparo da infraestrutura destruída pode ultrapassar US$ 18,5 bilhões, o que representa quase o total da produção econômica anual dos territórios palestinos em 2022.