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Odebrecht pagou R$ 630 milhões em propina a políticos na Venezuela

Construtora destinou mais de 110 milhões de reais para campanha de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de 2013

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 6 fev 2019, 12h49 - Publicado em 6 fev 2019, 11h25
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  • Delações e documentos reunidos no Brasil e na Venezuela indicam que a construtora brasileira Odebrecht pagou mais de 630 milhões de reais (173 milhões de dólares) em propinas e financiamentos ilegais de campanhas venezuelanas em oito anos. Os valores são quase o dobro do mencionado no acordo entre a construtora e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos que, em 2016, estimou os pagamentos de propina da construtora na Venezuela em 98 milhões de dólares.

    Autoridades da Venezuela que conduziram a fase inicial das investigações sobre a Odebrecht suspeitam que os pagamentos da empresa brasileira tenham, portanto, sido superiores ao que a empresa admitiu à Justiça americana.

    Esses repasses se tornaram um dos pilares da manutenção da elite chavista, embora parte tenha sido destinada também a outros partidos.

    Apenas para a campanha presidencial de Nicolás Maduro, mais de 110 milhões de reais (30 milhões de dólares) foram destinados pela construtora, segundo a investigação. Em troca, a empresa brasileira foi favorecida em mais de uma dezena de contratos públicos entre 2006 e 2014.

    As informações fazem parte da investigação conduzida pela Procuradoria da Venezuela, quando o organismo ainda estava sob comando de Luisa Ortega Díaz. Em 2017, ela fugiu para o exterior depois de entrar em choque com o governo Maduro. Parte dos dados foi levada por ela e seus assessores ao escapar. Em Caracas, o trabalho foi abandonado pelos procuradores que a substituíram.

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    Os valores sob suspeita seriam resultado de uma compilação de documentos confiscados, extratos bancários e informações colhidas a partir de delações premiadas.

    Os investigadores analisaram os depoimentos dos ex-funcionários da Odebrecht Euzenando Azevedo, Alessandro Gomez, Marcos Grillo, Hilberto Silva, Luis Eduardo da Rocha Soares, Fernando Miggliaccio e outros encarregados dos contratos da empresa na Venezuela.

    Também consta na apuração o depoimento de funcionários do Bank Meinl, instituição financeira que serviu como banco privado da Odebrecht para centenas de transferências de propinas pela América Latina.

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    Offshore

    Os dados mostram uma ampla rede de empresas offshore usadas em paraísos fiscais na Europa e no Caribe para receber os valores ilegais, por meio de operadores e companhias de fachada. No inquérito aparecem políticos locais, regionais e nacionais, além do núcleo duro do chavismo. No caso da campanha de Maduro, havia menção a “contratos fictícios” entre empresas de fachada e contas no exterior.

    Dados tabulados na investigação iniciada na Venezuela – e que não avançou após Maduro colocar Tarek William Saab como procurador-geral – apontam 35 milhões de dólares para a campanha eleitoral de Maduro contra Henrique Capriles, em 2013 (mais informações nesta página).

    O conjunto de documentos aponta a transferência de 29.331.107 de dólares por meio de 13 pagamentos, realizados entre 23 de setembro 2013 e 27 de maio de 2014. O período é posterior à eleição, realizada em abril de 2013. Parte do dinheiro, 9,93 milhões de dólares, foi transferida a partir do Bank Meinl, no qual a Odebrecht mantinha contas que utilizava para fazer pagamentos não contabilizados. Uma dessas contas era da Cresswell Overseas, uma offshore vinculada à Odebrecht.

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    O intermediário entre a Odebrecht e Maduro, segundo a investigação, foi Americo Alex Mata Garcia. Coordenador da campanha presidencial de Maduro em 2013, ele teria pedido e recebido pagamentos da Odebrecht em nome do governo venezuelano. Ao final foram entregues 35 milhões de dólares, embora o pedido inicial fosse de 50 milhões de dólares.

    Os documentos mostram que pelo menos 30 milhões de dólares foram movimentados em operações não contabilizadas. Como se revelou nas investigações sobre o grupo empresarial, os contratos fictícios de prestação de serviços eram um dos meios utilizados pela Odebrecht para formação de caixa 2.

    Na Venezuela, um dos contratos fictícios identificados está relacionado a obras do Projeto Agrário Integral Socialista José Inácio Abreu e Lima. O contrato foi firmado entre a Odebrecht e a PW Trading VC, empresa de representação comercial, que atua como intermediária entre fabricantes e compradores.

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    Procurado por e-mail, o governo venezuelano não deu respostas à reportagem. A Odebrecht, em um comunicado, indicou que “tem colaborado de forma eficaz com as autoridades dos vários países nos quais atua em busca do pleno esclarecimento de fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos”. “A Odebrecht já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente”, disse a empresa.

    Em agosto do ano passado, o Supremo Tribunal da Venezuela no exílio, nomeado pelo Parlamento controlado pela oposição, condenou Maduro a 18 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso Odebrecht. A decisão, contudo, não teve validade legal.

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