O resultado das eleições dos Estados Unidos, marcadas para 5 de novembro, pode mudar drasticamente como o ex-presidente Donald Trump passará os próximos quatro anos. O republicano depara com dois futuros: comandar a Casa Branca, de novo, ou lidar com os seus imbróglios com a Justiça. O magnata se tornou, afinal, o primeiro presidente americano, em exercício ou não a ser considerado culpado por um crime — em maio, ele foi condenado por 34 acusações no julgamento de suborno da ex-atriz pornô Stormy Daniels.
No início do ano, Trump enfrentava 91 acusações em quatro casos, incluindo o do esquema ilegal para silenciar Daniels sobre um affair que tiveram em 2006. Com o veredito de maio, ele passou a ter que lidar com as 57 denúncias restantes, incluindo interferência em eleições federais, retenção de documentos sigilosos e interferência eleitoral no condado de Fulton.
Há quem acredite que, caso o empresário vença a vice-presidente Kamala Harris nas urnas, as acusações serão arquivadas. Uma das vozes críticas à potencial interferência de Trump nos processos é Karen Friedman Agnifilo, que atuou como chefe da divisão de julgamento do promotor público de Manhattan. Em entrevista à emissora americana ABC News, ela afirmou que, com o ex-presidente no comando, “os processos criminais acabaram, seja legal ou praticamente”.
“Se ele vencer, diga adeus a todos os casos criminais”, acrescentou Agnifilo.
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Vitória x derrota
Em julho, a Suprema Corte dos EUA deu um aceno favorável ao ex-presidente americano. A maioria conservadora do tribunal superior concluiu que presidentes americanos devem receber algum grau de imunidade contra processos judiciais por ações oficiais que se estendessem ao “perímetro exterior” do seu gabinete. No entanto, ele ainda pode enfrentar acusações no âmbito pessoal.
Trump argumenta que deve receber imunidade nos casos porque estava atuando como presidente quando realizou as ações pelas quais é acusado. Por sua vez, o procurador especial que apresentou as acusações federais contra ele, Jack Smith, foi contra a disposição, alegando que ninguém está acima da lei. Na ocasião, a estratégia adotada pela defesa foi adiar ao máximo qualquer julgamento para depois das eleições presidenciais, na esperança de que ele seja reeleito e nomeie como procurador-geral alguém que retire as acusações contra ele.
O próprio republicano já deu indícios de que a situação mudará de figura se eleito. Em outubro, ele disse que demitirá Smith, responsável por dois dos quatro casos contra o ex-presidente, “em dois segundos” e que Smith seria “uma das primeiras coisas a serem abordadas” no seu governo. Há muito que Trump define os julgamentos como injustos, enviesados e uma forma de perseguição política.
Em contrapartida, o tempo pode fechar se Kamala assumir a Casa Branca. Fora do poder, ele enfrentará anos de processos judiciais, terá de arcar com centenas de milhões em multas e pode até mesmo parar atrás das grades. A sentença para as 34 acusações envolvendo Stormy Daniels será emitida em 26 de novembro, após o acirradíssimo pleito. Esse pode ser, então, apenas o início das dores de cabeça para Trump.