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O que esperar do encontro entre Biden e Bolsonaro 

Às margens da Cúpula das Américas, líderes do Brasil e Estados Unidos irão se encontrar pela primeira vez desde que Biden assumiu a Presidência

Por Matheus Deccache
Atualizado em 8 jun 2022, 16h21 - Publicado em 8 jun 2022, 07h00
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  • Jair Bolsonaro embarca nesta quarta-feira, 8, para os Estados Unidos para se encontrar pela primeira vez com o presidente americano, Joe Biden, durante a nona edição da Cúpula das Américas, que será realizada em Los Angeles. O evento, que começou na segunda-feira 6 e vai até a sexta-feira, 10, faz parte da estratégia do governo americano para recuperar a influência na América Latina, abalada em parte devido às ações do ex-presidente Donald Trump

    Essa será a primeira vez que os presidentes de ambas as nações irão se encontrar, quase um ano e meio depois da posse oficial de Biden. Tamanho afastamento não é por acaso. Alinhado descaradamente com as ideias de Trump, Bolsonaro foi o penúltimo chefe de Estado a parabenizar o atual líder americano pela vitória nas eleições e constantemente endossa o discurso de Trump de que houve fraude no processo eleitoral. 

    + EUA têm trabalho para convencer vizinhos a não esbonar Cúpula das Américas

    O mais novo disparate contra o sistema eleitoral americano ocorreu na terça-feira 7, às vésperas do encontro, quando Bolsonaro disse em entrevista ao SBT News, sem citar provas, ficar com “pé atrás” com o resultado devido a informações de que o republicano estaria “muito bem”.

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    A fala evidencia que Bolsonaro sabe de sua importância para o governo americano nesta semana. Mesmo com as diferenças ideológicas e atritos, o medo de uma Cúpula das Américas esvaziada levou a Casa Branca a enviar um assessor especial, o ex-senador Christopher Dodd, para convencer o líder brasileiro pessoalmente a participar, em troca do tal encontro bilateral. 

    Membros do governo brasileiro enxergam a oportunidade para valorizar o passe do presidente e acabar com o posto de pária internacional adquirido ao longo do governo Bolsonaro. No Itamaraty, diplomatas veem no risco de esvaziamento um ótimo caminho para o presidente fazer exigências aos americanos, já que é raro que o governo dos Estados Unidos se encontre em posição de dependência do governo brasileiro.

    A consciência de sua importância é tamanha que ele chegou a dizer que só decidiu aceitar o convite depois da garantia de que teria ao menos 30 minutos com Biden. 

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    “Não iria jamais para lá para ser moldura de uma fotografia. Tem uma audiência bilateral de pelo menos 30 minutos com ele? Tive três horas com o Putin. A resposta foi sim. Então iremos falar da posição do Brasil, falar do que havia tratado com o presidente Donald Trump para continuarmos essa política”, disse durante evento em Goiânia. 

    Outra exigência de Bolsonaro era a garantia de que não seria repreendido por Biden durante o evento, seja por questões relacionadas às eleições no Brasil ou pela questão ambiental na Amazônia. Embora devam ficar em segundo plano devido à guerra na Ucrânia, é provável que esses assuntos irão pautar não só a Cúpula das Américas mas também os 30 minutos – ou mais – do encontro entre os líderes.

    Em relação à democracia, o alto funcionário da Casa Branca para a América Latina, Juan Gonzalez, se esquivou na última semana e disse que “a questão das eleições brasileiras é algo para os brasileiros decidirem”. Sobre as mudanças climáticas, no entanto, Gonzalez reiterou que o tema segue sendo prioridade para o governo Biden. 

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    “A conversa cobrirá uma gama ampla de tópicos. Insegurança alimentar, resposta econômica à pandemia, saúde. E o tema da mudança climática é algo que o presidente tem deixado claro como prioridade”, disse. 

    + Pouco antes de encontro com Biden, Bolsonaro cita fraude eleitoral nos EUA

    Em entrevista à CNN, o secretário das Américas do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, disse que os principais assuntos abordados devem ser sobre democracia, economia e meio ambiente. Segundo ele, é difícil priorizar algum tema em específico, porém o tamanho dos investimentos e o comércio entre os dois países é fundamental. 

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    Esse assunto ganha um peso ainda maior devido à influência da China na região, que se aproveita dos vácuos deixados pelos Estados Unidos e se consolida cada vez mais como um grande parceiro comercial da região.

    Em 2021, o volume do comércio da América Latina com os chineses chegou a US$ 400 bilhões e 21 dos 36 países do continentes já se envolveram com a Nova Rota da Seda, megaprojeto ambicioso de Xi Jinping que prevê um investimento de US$ 5 trilhões para conectar os continentes por rotas marítimas e terrestres. 

    Em resposta, uma das propostas do governo americano é o avanço do nearshoring, que consiste em trazer para a América Latina parte das cadeias de produção industriais alocadas na Ásia. Porém, a efetividade disso para o Brasil é mais complexa, uma vez que a China é atualmente o principal parceiro comercial do país e tem os Estados Unidos como competidor direto no fornecimento de commodities agrícolas para o gigante asiático. 

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    Já a questão ambiental é tratada como um assunto antigo e de relativa tranquilidade pelo governo brasileiro, uma vez que ambos os países se comprometeram a cumprir metas climáticas. Desse modo, segundo Costa e Silva, não há uma ideia de cobrança, mas sim uma “conversa sobre o que se deve fazer para cumprir o que foi apresentado nas conferências internacionais”.

    + Governo dos EUA recorre a Bolsonaro para salvar Cúpula das Américas

    Depois de quase um ano e meio de relações distantes e hostilidades, os presidentes de Brasil e Estados Unidos terão a chance de traçar um novo caminho para as relações internacionais entre os países.

    O momento é oportuno para ambos: para Bolsonaro, é a oportunidade de se desgarrar do rótulo de pária internacional e mostrar para o mundo sua importância no cenário global, fundamental para sua reeleição; para Biden, é o momento de se apoiar na maior economia da América Latina para começar a recuperar a influência americana no continente pós-Trump e frear o avanço de seu principal adversário econômico. 

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