O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, morreu, no domingo, 19, após seu helicóptero cair nas montanhas do norte do país. O governo iraniano afirmou nesta segunda-feira, 20, que continuará a operar “sem a menor interrupção”. “Garantimos à nação leal que o caminho do serviço continuará com o espírito incansável do aiatolá Raisi”, afirma o comunicado.
Mas o episódio gerou ainda mais incerteza sobre o futuro do país e do Oriente Médio, levando em conta que não só o líder político da nação pereceu, mas também o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amirabdollahian, e outros altos funcionários do governo.
O legado de Raisi
Jurista islâmico conhecido pela sua estreita relação com o aiatolá Ali Khamenei, Raisi era considerado por muitos como um provável candidato à sucessão do idoso líder supremo do Irã. Agora, a morte de Raisi encerra uma era curta, mas transformadora, na política iraniana, que viu o país tornar-se ainda mais linha-dura — e ameaçou levar o Oriente Médio à beira de uma guerra regional.
Em quase três anos no poder, o presidente levou o Irã por uma direção extremamente conservadora e abraçou o papel de claro antagonista dos Estados Unidos na região. Ele também acelerou o programa nacional de enriquecimento de urânio e abandonou as negociações de um acordo para receber benesses em troca da contenção de seu programa nuclear. Em comparação, seu antecessor, Hassan Rouhani, fez acenos ao Ocidente usando justamente o programa nuclear da nação como moeda de troca.
O Irã sob o comando de Raisi também apoiou a Rússia na guerra contra a Ucrânia, com extensas exportações de drones e munições; aumento dos ataques de facções islâmicas aliadas do regime contra os Estados Unidos e Israel; e um ataque massivo de drones e mísseis contra o Estado israelense, que ocorreu apenas um mês antes da sua morte.
O que vem por aí
Analistas avaliam que, não importa quem substitua Raisi, é pouco provável que a sua abordagem linha-dura mude ou seja abandonada. Durante seus anos de governo, o modus operandi ultraconservador foi solidificado entre os mais altos escalões da liderança política e clerical do Irã.
De acordo com a Constituição iraniana, o primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber, deverá ocupar o cargo de chefe do gabinete durante os próximos 50 dias, até que sejam convocadas novas eleições. Se o último pleito presidencial, em 2021, serve de exemplo, é provável que Ali Khamenei e seus aliados se esforcem para garantir a vitória de seu novo candidato (como fizeram com Raisi na época), desqualificando potenciais rivais.
Apesar do “caminho claro” das regras constitucionais para a sucessão, há potencial para turbulência no topo da classe dominante do Irã. Raisi não tem sucessor claro. Com sua morte, Khamenei também já não tem. Nesse contexto, o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), o maior braço das forças armadas iranianas, que controla grandes áreas da economia do país, também poderia aproveitar a convulsão para ganhar mais poder — em uma espécie de golpe em câmera lenta.
Outro fator de turbulência: embora analistas vejam como improvável a ascensão de uma figura mais progressista nas eleições, a morte de Raisi pode criar uma janela de oportunidade para o ressurgimento de movimentos de protesto latentes.