Clique e Assine VEJA por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

O que a condenação de Trump significa para as eleições dos EUA

Ex-presidente americano tornou-se o primeiro líder da história do país, em exercício ou não, a ser considerado culpado por um crime

Por Amanda Péchy
Atualizado em 31 Maio 2024, 15h54 - Publicado em 31 Maio 2024, 15h46

Após ser considerado culpado de todas as 34 acusações por falsificação de registros comerciais no processo sobre pagamentos secretos a uma ex-atriz pornô, em Nova York, o ex-presidente americano Donald Trump tornou-se o primeiro líder dos Estados Unidos, em exercício ou não, a ser condenado por um crime. Também fez história como o primeiro candidato de um dos dois principais partidos do país (o Republicano, no caso) a se tornar um criminoso condenado, colocando as eleições americanas, marcadas para 5 de novembro, em águas desconhecidas.

Ainda não sabemos exatamente qual será o destino de Trump. O juiz responsável pelo seu caso, Juan Merchan, marcou para 11 de julho a audiência que definirá a pena cabível para os crimes cometidos. Como ele foi considerado culpado de 34 acusações, cada uma das quais passível a quatro anos de prisão, na teoria, ele poderia ficar atrás das grades por até 136 anos. No entanto, ainda é incerto se ele realmente será preso. E, se for, isso não o impediria de continuar na corrida pela Casa Branca – não há Lei da Ficha Limpa americana que o barre das urnas. Isso significa que existe a possibilidade dos Estados Unidos elegerem um presidente não apenas condenado, mas na cadeia.

+ Trump volta a chamar julgamento de ‘injusto e enviesado’ após condenação

Republicano favorito

Trump garantiu já no início das primárias deste ano o número de delegados suficiente para receber a nomeação de candidato do Partido Republicano às eleições, que será oficializada na Convenção Nacional Republicana no dia 15 de julho – poucos dias após a sua sentença.

Continua após a publicidade

As últimas pesquisas de opinião indicam um empate técnico entre ele e o atual presidente americano, Joe Biden. Segundo levantamento da YouGov, Trump tem 41% dos votos, contra 40% do democrata. Porém, o republicano mantém vantagem de até oito pontos percentuais em cinco estados decisivos para o pleito – as eleições americanas são definidas não pelo número bruto de votos, mas pelos “colégios eleitorais”, o que significa que para vencer é preciso conquistar o máximo de estados possível, ou aqueles com o maior número de delegados (que é proporcional à população do estado).

+ Kremlin critica condenação de Trump como uma eliminação de rival político

Mas as mesmas pesquisas também fornecem provas de que a condenação pode mudar um pouco as coisas.

Continua após a publicidade

Um levantamento realizado pela Ipsos e pela emissora ABC News, em abril, concluiu que 16% dos apoiadores de Trump reconsiderariam o seu voto caso ele fosse considerado culpado de um crime. Um outro da Reuters/Ipsos indicou que 13% não votariam nele nesse cenário, 29% não tinham certeza, e pouco mais de metade manteriam seu apoio.

Esses dados, no entanto, são hipotéticos. E Trump aposta nisso. Como disse, momentos depois de deixar o tribunal após a condenação, “o verdadeiro veredito será dado em 5 de novembro, pelo povo”, em referência às eleições.

Caso “fraco”

Dos quatro processos nos quais Trump foi indiciado, o que lhe rendeu a condenação na quinta-feira 30 era considerado o mais “fraco”. Os outros três são os seguintes:

Continua após a publicidade
  • O ex-presidente foi indiciado por reter documentos secretos da Casa Branca após deixar a Presidência e exibi-los a amigos em seu clube de campo, incluindo textos contendo informações ultrassecretas sobre o arsenal nuclear dos Estados Unidos.
  • Numa ação movida pelo Departamento de Estado, ou seja, de âmbito federal, Trump é acusado de tentar anular sua derrota eleitoral de 2020, um esforço que culminou na invasão do Capitólio americano, em 6 de janeiro de 2021, por seus apoiadores, a fim de impedir o Congresso de certificar a vitória de Joe Biden.
  • Uma ação movida pelo estado da Geórgia também está relacionada à tentativa de subversão do resultado das eleições.

+ Júri delibera sobre processo contra Trump por fraude; relembre caso

Ao contrário dessas investigações, o caso sobre falsificação de registros comerciais no âmbito de pagamentos secretos à ex-atriz pornô Stormy Daniels, pelo qual ele acaba de ser considerado culpado, é referente ao passado. As transferências de dinheiro e a maquiagem financeira para escondê-las ocorreram às vésperas da corrida presidencial de 2016 e no primeiro ano do mandato de Trump, 2017. Já o suposto affair com Daniels que ele teria tentado encobrir é ainda mais antigo: os dois teriam tido um encontro sexual em 2006, um ano depois dele se casar com a esposa, Melania.

Pela distância dos acontecimentos, analistas avaliam que os eleitores podem se sentir menos incomodados com a condenação – suas maiores preocupações estão centradas na economia, em especial em relação à inflação, na entrada de imigrantes ilegais pela fronteira dos Estados Unidos com o México e com a política americana em relação às guerras na Ucrânia e em Gaza.

Continua após a publicidade

+ Trump acusa Biden de perseguição após ser considerado culpado de fraude

Mesmo uma ligeira queda no apoio a Trump, no entanto, pode ser suficiente numa corrida apertada, que a disputa presidencial deste ano promete ser. Se alguns milhares de eleitores trumpistas decidirem não ir às urnas (já que a votação é opcional) num estado-chave, como o Wisconsin ou a Pensilvânia, isso pode fazer toda a diferença.

Por outro lado, a cada indiciamento, o republicano subiu nas pesquisas de opinião – uma resposta de seus eleitores que acreditam que ele sofre “perseguição política” pelo aparato judicial do governo Biden. Já há indícios de apoiadores que planejam motins e rebeliões como protesto contra a condenação, uma movimentação que também pode significar um impulso para sua base eleitoral ir às urnas.

Continua após a publicidade

A força do trumpismo

Algumas vezes a morte do trumpismo foi decretada nos Estados Unidos. A primeira foi com a derrota do ex-presidente nas eleições de 2020, depois, com o violento ataque por sua horda de apoiadores contra o Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Analistas conjecturaram que Trump já não seria um candidato republicano viável e que o movimento não poderia seguir sem seu líder. Em 2022, quando as midterms – eleições fincadas no meio do mandato presidencial – renderam escassos frutos aos políticos que abraçaram as diretrizes do Make America Great Again (MAGA), o diagnóstico foi o mesmo.

Mas não vingou. Tanto Trump quanto sua corrente ideológica continuam vivíssimos. Difícil de definir, o trumpismo é uma mistura de políticas isolacionistas, com cortes de impostos corporativos, culto à personalidade e retórica autoritária, marcado principalmente pelo nacionalismo e nativismo. “Sobretudo, é o que Trump disser que é”, disse a VEJA Robert Shapiro, professor de ciência política da Universidade de Columbia.

+ E se ele voltar? Como eventual vitória de Trump pode chacoalhar o mundo

Sua influência quase messiânica provém da capacidade de capitalizar o ressentimento de parte do eleitorado, especialmente a classe média baixa que não tem ensino superior, contra o poder estabelecido, do qual se sente excluído. “O ex-presidente mostrou ser um demagogo inteligente; ele explora o medo e o rancor dos que se sentem deixados para trás pelas elites urbanas”, disse a VEJA Michael Walzer, filósofo da Universidade Princeton.

Ainda não está claro se essa condenação significará o início do fim do trumpismo, especialmente se ele realmente for preso. Mas se os últimos oito anos servem de exemplo, pode ser apenas o mais recente de uma longa série de acontecimentos perturbadores que, em retrospectiva, foram apenas obstáculos no caminho de Trump para o poder.

O julgamento final sobre a importância da condenação de Trump chegará às mãos dos eleitores em novembro. Se o ex-presidente for derrotado, o veredito provavelmente será visto como uma das razões. Se ele vencer, pode ser um ponto de virada na história da política dos Estados Unidos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.