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O ousado plano de Macron para acabar com a dependência da soja do Brasil

Com pacote de 100 milhões de euros, país vai aumentar cultivo de leguminosas em 40% em apenas três anos, para driblar 'desmatamento importado'

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h06 - Publicado em 1 dez 2020, 17h35
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  • O Brasil é o maior produtor de soja do mundo, exportando o grão para 50 países diferentes na Ásia, África e Europa. No ano passado, a atividade rendeu mais de 30 bilhões de dólares. Contudo, em meio a crescentes críticas à ligação do plantio com o desmatamento, o presidente Emmanuel Macron, da França, foi o primeiro a bater o martelo: prometeu à sua nação a independência da soja brasileira.

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    Nesta terça-feira, 1, o governo e o setor agrícola francês se comprometeram a aumentar em 40% as áreas destinadas ao cultivo de plantas ricas em proteínas em apenas três anos. Isso equivale a 400.000 hectares extras de terra para cultivo até 2023.

    O ministro da Agricultura, Julien Denormandie, afirmou ainda que essa é uma etapa “intermediária”: em dez anos, o governo promete dobrar a área cultivada, chegando a 2 milhões de hectares dedicados ao cultivo de oleaginosas e leguminosas em 2030.

    Os produtores franceses assinaram uma “carta de compromisso”, prometendo respeitar a meta em troca de ajuda financeira, no valor de 100 milhões de euros (quase 630 milhões de reais) durante dois anos, para incentivar o cultivo e a pesquisa de proteaginosas.

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    Segundo Denormandie, a empreitada tem como objetivo a garantia da “soberania agroalimentar” e o fim da importação de soja ligada ao desmatamento. Atualmente, metade das proteínas vegetais para ração animal utilizadas na França é proveniente de importações e o país é o maior importador de farelo de soja brasileiro na União Europeia: das 2,2 milhões de toneladas que atravessaram suas fronteiras no último ano, mais de 88% veio do Brasil.

    Ecologicamente correto

    Em setembro, a França se opôs veementemente ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul devido ao desmatamento na região amazônica. Além disso, o país se comprometeu em 2018 a zerar sua participação no desmatamento ligado à importação de produtos agrícolas não sustentáveis até 2030.

    O “plano de proteína vegetal” – esperado há dois anos, quando Macron anunciou que iria “trazer um ambicioso plano de proteínas para o continente europeu” – também prevê um orçamento de 3 milhões de euros (19 milhões de reais) para incentivar o consumo de leguminosas pela população (especialmente as crianças).

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    Grande parte de sua presidência depende da conciliação entre meio ambiente e economia. Desde sua posse em 2017, o líder francês luta para adotar políticas mais ecologicamente corretas, sob pressão de grupos de proteção ambiental e parte da sociedade. Contudo, foi um imposto sobre emissões de CO2 que inflamou os protestos dos Coletes Amarelos em 2018, que quase abateram seu governo.

    Em agosto e novembro, ativistas do Greenpeace protestaram em Paris para denunciar a “inação” e o “silêncio” do governo a respeito dos incêndios na Amazônia, provocados para que a terra seja usada para pecuária e agricultura. Macron já havia admitido que o país era “em parte cúmplice” do chamado “desmatamento importado”.

    O desmatamento na floresta amazônica do Brasil teve o maior crescimento em 12 anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A área afetada aumentou cerca de 9,5% de agosto de 2019 a julho de 2020 em comparação com o período anterior, de 2018 a 2019.

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    “Emmanuel Macron prometeu muito, mas não fez nada”, tuitou Jean-François Julliard, diretor do Greenpeace França.

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