Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

O mercado de maconha cresce entre quatro paredes no isolamento

Em confinamento, usuários da erva aumentaram suas compras onde ela é legal, como no Canadá e estados americanos, mas também onde não é

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 14h26 - Publicado em 29 Maio 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em meio à devastação de negócios parados ou em retomada de atividades após meses de portas fechadas, um setor vem se mostrando não só resistente à crise, como também em franca expansão: a indústria da maconha. Nos Estados Unidos, as vendas em geral aumentaram consistentemente desde que as restrições à locomoção começaram e, entre os consumidores, 30% dizem estar consumindo mais durante a pandemia (e por causa dela). Um relatório detalhado do banco de investimentos Cowen & Co revela que a venda de cannabis subiu 17% entre março e abril na Califórnia, Colorado, Nevada e Washington, estados onde a droga é legalizada, convém reforçar. Em certas cidades, há casos de explosão do consumo: em Denver e São Francisco, o salto chegou a 120% nos primeiros dias de isolamento, quando o valor gasto em cada compra disparou cerca de 50% (veja o quadro) — indício de que consumidores temerosos de escassez trataram de fazer estoque. A providência mostrou-se, ao contrário do que ocorreu em relação ao papel higiênico, dispensável. Na maioria dos 33 estados americanos em que o comércio e o consumo de maconha são permitidos, o produto foi incluído na lista de essenciais (por causa do uso medicinal), e as lojas que o oferecem não fecharam.

    O cenário de negócio pujante se repete, com mais vigor ainda, no vizinho Canadá, onde a produção, a venda e o consumo da maconha são regulamentados desde 2018. No país, a euforia inicial provocada pela legalização foi seguida de um crescimento desproporcional da oferta, o que resultou em encalhe de estoques. A reviravolta das rotinas em decorrência da pandemia mudou esse quadro. “As pessoas entenderam que ficarão um bom tempo em casa e trataram de se suprir dos produtos que vão lhes fazer falta. A maconha definitivamente está nesse rol”, arrisca Briana Vaags, dona de uma loja em Vancouver. Na província de Ontário, a mais populosa, as compras on-line de maconha e derivados cresceram cinco vezes durante o confinamento. Na de Quebec, o salto foi de 40% nas lojas físicas e de espetaculares 200% na internet.

    arte-maconha

    A disseminação do novo coronavírus trouxe uma mudança de comportamento observada tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá no que se refere ao canal utilizado para consumir a droga. Por medo do efeito da fumaça de cigarros e vaporizadores nos pulmões, o órgão mais castigado pela Covid-19, os usuários incluíram na lista de compras as bebidas com infusão de cannabis (alta de 14%) e os bolos e outros itens comestíveis que levam a erva na massa (mais de 28%), tirando do limbo uma mercadoria que, antes, representava 1% das vendas.

    Também o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, agência da União Europeia, detectou um avanço de 25%, entre janeiro e março, na busca por maconha na chamada dark web, a rede invisível utilizada para o comércio de produtos e serviços ilegais. Um dos motivos para a indústria da maconha estar indo tão bem é, além do medo inicial de falta do produto, a universalização da oportunidade de uso — preso em casa o dia todo, inclusive no horário de trabalho, o apreciador considera que qualquer hora é hora para dar sua, digamos, relaxada, longe de olhares indiscretos. “Tenho sempre um estoque para quinze dias. É uma maneira de lidar com o stress neste período de incertezas”, argumenta a empresária canadense Maureen Duflot. Em contrapartida, o uso de ecstasy, consumido em festas, entrou em declínio com o isolamento. “O desempenho excepcional mostra que essa é uma indústria à prova de tempos difíceis”, diz John Hudak, que estuda políticas para a maconha na Brookings Institution de Washington.

    Continua após a publicidade

    ASSINE VEJA

    As consequências da imagem manchada do Brasil no exterior
    As consequências da imagem manchada do Brasil no exterior O isolamento do país aos olhos do mundo, o chefe do serviço paralelo de informação de Bolsonaro e mais. Leia nesta edição ()
    Clique e Assine

    Nos Estados Unidos, o maior mercado do planeta, com 38 milhões de usuários declarados, a venda anual de maconha e derivados alcança 12 bilhões de dólares e rendeu ao governo, em 2019, 5 bilhões em arrecadação de impostos. Cerca de 340 000 americanos trabalham na produção, transporte e comercialização da planta. Analistas preveem que, em plena crise, o setor crescerá 14% no país em 2020, dado animador inclusive para locais onde a droga não é legalizada. Em situação de insolvência fiscal, o Líbano autorizou em abril a exportação do produto, tornando-se a primeira nação árabe a regulamentar o cultivo — a proibição de consumo interno foi mantida. Os libaneses deverão arrecadar 1 bilhão de dólares por ano, quantia decisiva para equilibrar os cofres públicos. Desde 2017, cinco nações africanas também permitem a exportação da droga para fins industriais e medicinais. Com custos bem mais em conta, Malawi, Uganda, Lesoto, Zimbábue e Gana vêm atraindo empresas do Canadá, Estados Unidos e China. Na visão desses governos, maconha é um mal, sim, mas business is business.

    Publicado em VEJA de 3 de junho de 2020, edição nº 2689

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.