Fazendo inveja a colegas bem mais novos que definham em profunda anemia, o Partido Comunista da China chegou aos 100 anos forte e sacudido, controlando todos os aspectos da vida no país. O centenário de fundação, em 1º de julho, mereceu um extenso calendário de celebrações, culminando com shows e queima de fogos nas grandes cidades — a primeira aglomeração permitida desde o início da pandemia, na cidade de Wuhan, em 2020. Diante de 70 000 pessoas reunidas na Praça da Paz Celestial e em telões por todo o país, o presidente Xi Jinping, que aglutina em sua imperial pessoa o poder que emana do PC, avisou que quem subestimar a força da nação “vai deparar com uma muralha de aço forjada por 1,4 bilhão de chineses” — recado em tom retumbante dirigido aos Estados Unidos, com quem trava uma disputa pela supremacia mundial. E profetizou, em tom categórico: a China será a maior economia do planeta até o fim da década.
Com 95 milhões de filiados (7% da população), o partido detém com mão de ferro o monopólio do poder político e as rédeas dos rumos da segunda maior economia global. Desde a ascensão de Xi Jinping ao poder, em 2013, seus tentáculos se espalharam ainda mais. Com comunicados, diretrizes, burocratas e postos-chave, o PC aperta de todos os ângulos o controle da internet (que mesmo assim lhe escapa às vezes). Também avançou sobre a preservação dos costumes (empreende uma cruzada contra homossexuais, critica a “fraqueza” dos artistas do K-pop coreano, venerados pelos chineses), a interferência na vida privada (dificulta o divórcio, em prol da nova política de mais filhos por casal, limita as horas de videogame) e a intervenção direta nos grandes conglomerados, sobretudo os de tecnologia. A onipresença do partido é causa e efeito da consolidação do poder de Xi, que, no congresso comunista em novembro, teve sua liderança equiparada à dos heróis Mao Tse-tung e Deng Xiaoping. Se tudo correr dentro dos planos — e na China é difícil isso não acontecer —, tanto o PC quanto o presidente têm longa parceria pela frente: o mesmo Congresso liberou sua reeleição, autorizou a renovação do mandato até 2027.
Publicado em VEJA de 29 de dezembro de 2021, edição nº 2770