Número dois do governo francês cai por escândalo de despesas onerosas
Entre os gastos de François de Rugy estão o oferecimento de jantares com lagosta e champanhe, pagos com dinheiro público
O número dois do governo francês, François de Rugy, renunciou nesta terça-feira 16 em meio a um escândalo de despesas onerosas, entre elas o oferecimento de jantares com lagosta e champanhe, pagos com dinheiro público.
“Os ataques e o linchamento midiático contra a minha família me levam hoje a dar um passo atrás”, informou em um comunicado Rugy, que era ministro da Transição Ecológica.
“Os esforços necessários para me defender fazem com que não esteja em condições de assumir de forma serena e eficaz a (minha) missão”, acrescentou.
Sua renúncia ocorre 24 horas depois de o presidente Emmanuel Macron, em viagem a Belgrado, declarar ter pedido ao premiê que esclarecesse as acusações contra Rugy. “Não tomo decisões com base em revelações, mas em fatos”, afirmou.
De Rugy foi substituído por Elisabeth Borne, atual ministra de Transportes, que acumulará as duas pastas, mas não terá o status de número dois do governo, como seu antecessor, anunciou a presidência.
O escândalo que lhe custou o cargo veio à tona depois que o veículo digital Mediapart revelou na semana passada que De Rugy organizava festas de luxo entre 2016 e 2017, quando era presidente da Assembleia Nacional, pagas com dinheiro público.
Em cada um destes eventos, eram servidos lagosta, champanhe e vinhos excepcionais retirados da adega da Assembleia a convidados que variavam entre dez e trinta, a maioria amigos e do círculo de relações de sua esposa, Séverine de Rugy, jornalista da revista de celebridades Gala, reportou o veículo investigativo.
As imagens que circularam nas redes sociais do ministro posando sorridente durante esses jantares nababescos enfureceram muitos franceses, em um país mergulhado há sete meses nos protestos dos “coletes amarelos”, um coletivo exasperado pela pressão fiscal e a queda no nível de vida das classes mais populares.
“A Mediapart me ataca com base a fotos roubadas, fofocas, aproximações, elementos externos à minha função”, alegou o ministro, que anunciou ter apresentado uma denúncia por difamação contra o periódico digital, que revelou no passado vários casos, inclusive o de financiamento irregular de Nicolas Sarkozy na campanha presidencial de 2007.
De Rugy, ex-membro do partido ecologista que se somou às fileiras de Macron em 2017, defendeu-se explicando-se que esses “jantares informais” faziam parte de um “trabalho de representação” no âmbito de suas funções.
Uma avalanche de escândalos
Mas as revelações não pararam aí. A Mediapart também reportou que o ministro realizou reformas em seu apartamento funcional de 63.000 euros (265.771,80 reais), pagos com dinheiro público, e que tinha se beneficiado de um apartamento perto de Nantes, sua cidade natal, no oeste da França, que alugava a um preço preferencial.
Na semana passada, De Rugy também se viu forçado a demitir sua chefe de gabinete, Nicole Klein, depois de saber que tinha mantido uma residência subsidiada pelo Estado em Paris entre 2006 e 2018, período no qual não morava na capital francesa.
A renúncia do ministro será uma dor de cabeça para o chefe de Estado, de 41 anos, que terá que encontrar seu terceiro ministro de Ecologia em dois anos, após a surpreendente renúncia, em agosto de 2018, do popular ativista e jornalista Nicolas Hulot, decepcionado com a falta de avanços em temas ambientais.
Emmanuel Macron respeita a “decisão pessoal” de François de Rugy “para que possa se defender plena e livremente”, informou a Presidência francesa à AFP.
Esta pasta foi a primeira deste ambicioso político de 45 anos, membro do partido Europa Ecologia – Os Verdes (EELV) desde 1997.
Em 2017, depois de ter participado das primárias organizadas pelo Partido Socialista e seus aliados para as presidenciais, passou para o “macronismo”, apesar de ter se comprometido a apoiar o campeão socialista, Benoît Hamon.
“Prefiro a coerência à obediência”, justificou De Rugy, que foi tachado de “oportunista profissional” pela deputada de extrema esquerda Clémentine Autain. Em junho daquele ano, após a vitória de Macron, foi eleito presidente da Assembleia Nacional.
(Com AFP)