Novas manifestações são convocadas em Hong Kong contra lei de extradições
No domingo, mais de 1 milhão de pessoas protestaram contra projeto de lei defendido pelo Executivo local
Novas manifestações foram convocadas para quarta-feira, 12, em Hong Kong contra um polêmico projeto de lei que permitirá extradições para a China. Neste domingo 9, ato reuniu 1 milhão de pessoas.
A manifestação de ontem não convenceu o governo a desistir do polêmico projeto de lei.
“É uma lei muito importante, que permitirá o triunfo da justiça e garantirá que Hong Kong cumpra com suas obrigações internacionais em termos de criminalidade transnacional”, declarou a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam.
Diante da recusa de Lam, a oposição convocou uma nova mobilização. “Em 12 de junho, esperamos que a Frente Civil dos Direitos Humanos inicie a manifestação às 10h locais (23h de Brasília, terça-feira)”, afirmou nesta segunda-feira Jimmy Sham, um dos organizadores do movimento.
Ao mesmo tempo, o governo chinês destacou que “continuará apoiando de modo veemente” o projeto de lei apresentado pelas autoridades de Hong Kong.
“Nos opomos a qualquer força estrangeira que intervenha nos assuntos legislativos de Hong Kong”, disse Geng Shuang, porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China.
Grande manifestação
No domingo, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas na principal ilha do centro financeiro, segundo os organizadores. A polícia local, contudo, afirmou que apenas 240.000 pessoas participaram do ato.
Ainda assim, foi o maior protesto no território desde 1989, quando 1,5 milhão de pessoas expressaram apoio aos manifestantes da Praça Tiananmen (Paz Celestial). Na época, Hong Kong ainda estava sob o governo colonial britânico.
As imagens aéreas que mostravam as ruas estreitas de Hong Kong lotadas rodaram o mundo. Mas, na China continental, o principal telejornal não mencionou o evento e as buscas na rede social Weibo foram censuradas.
O acordo “um país, dois sistemas”, estabelecido quando o Reino Unido devolveu Hong Kong à China, permite que a cidade goze de direitos que não existem no continente, incluindo a liberdade de expressão.
O caso
O projeto de lei apoiado por Carrie Lam permitiria a extradição de suspeitos procurados para a China continental, Macau e Taiwan, com as quais o governo de Hong King ainda não tem acordos sobre o tema. A norma permitiria, inclusive, o envio de fugitivos do regime chinês à Pequim.
Os críticos do texto consideram que o projeto das autoridades de Hong Kong pró-Pequim deixará a população à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado. O Executivo desta região semiautônoma defende que a lei vai preencher uma brecha jurídica e que é necessária, em especial para permitir a extradição para Taiwan de um cidadão de Hong Kong acusado de assassinato.
Chris Patten, o último governador britânico de Hong Kong, disse na quinta-feira que o projeto de lei “será um golpe terrível contra o Estado de Direito, contra a estabilidade e segurança de Hong Kong, contra a posição de Hong Kong como um grande centro comercial internacional”.
Governos estrangeiros também expressaram preocupação, alertando para o impacto da lei sobre a reputação de Hong Kong como um centro financeiro internacional, e observando que estrangeiros procurados na China correm o risco de serem aprisionados em Hong Kong.
Juízes de Hong Kong estão preocupados com as mudanças, observando a falta de confiança nos tribunais do continente, bem como a natureza limitada das audiências de extradição.
(Com AFP e Reuters)