O bispo Rolando Álvarez, preso no ano passado na Nicarágua devido a críticas ao regime do líder do país, Daniel Ortega, foi libertado na segunda-feira 3. Sua prisão elevou as tensões entre Ortega e a Igreja Católica.
A informação foi antecipada pelo jornal local Confidencial e confirmada pela agência de notícias Reuters. Segundo uma fonte diplomática, o regime e a cúpula religiosa do país ainda estão em negociações sobre o futuro de Álvarez. Enquanto isso, o religioso está alojado nas instalações episcopais em Manágua, capital nicaraguense.
Álvarez foi preso em agosto de 2022 na diocese de Matagalpa, uma das mais visadas pelo regime de Ortega. Na ocasião, outros quatro sacerdotes, dois seminaristas e um funcionário do local também foram detidos. Os suspeitos foram acusados de organizar grupos violentos, fomentar o ódio e realizar atividades para desestabilizar o governo.
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O bispo foi colocado em uma cela de segurança máxima em fevereiro, depois de ser oficialmente condenado a 26 anos e quatro anos de cadeia e privado de sua cidadania. Um dia antes da condenação, recusou-se a embarcar em um avião com destino aos Estados Unidos junto com outros 222 exilados políticos.
Segundo a fonte consultada pela Reuters, se o religioso se recusar novamente a deixar o país, ele pode voltar à prisão. O regime de Ortega não se manifestou sobre o assunto.
A prisão de Álvarez e outros religiosos foi o indício mais forte das acusações contra a Nicarágua de perseguição à Igreja Católica. Desde então, o governo suspendeu rádios católicas, congelou contas bancárias de igrejas, fechou templos e expulsou ao menos 84 religiosos do país.
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Neste ano, o governo da Nicarágua rompeu laços com o Vaticano, depois que o papa Francisco descreveu Ortega como uma pessoa “desequilibrada” e comparou seu regime às ditaduras da União Soviética e da Alemanha. Em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no final do mês passado, o pontífice solicitou que o petista intercedesse junto ao regime Ortega em favor da libertação do bispo.
Mas as tensões começaram bem antes, nos protestos de 2018. Quando milhares de pessoas saíram às ruas para se manifestar contra Ortega, membros da Igreja Católica ajudaram e deram refúgio aos manifestantes. Na repressão ao movimento, mais de 300 pessoas foram mortas.