O regime autoritário da Nicarágua, liderado pelo presidente Daniel Ortega, libertou mais de 200 prisioneiros detidos durante uma feroz repressão política que já dura dois anos. Os expatriados foram mandados na noite de quinta-feira 9 para Washington, nos Estados Unidos, em uma avião fretado.
Entre os presos estão grandes nomes da oposição de Ortega, como o ex-ministro das Relações Exteriores Francisco Aguirre-Sacasa, detido desde julho de 2021. Os ex-candidatos presidenciais Cristiana Chamorro e Arturo Cruz também estavam no avião, bem como o ex-líder estudantil Lesther Alemán, de 25 anos, que se revoltou contra Ortega em 2018.
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Junto a eles, também estava o opositor Félix Maradiaga, preso em junho de 2021, antes das eleições presidenciais da Nicarágua – que Ortega venceu –, por alegar que a votação havia sido fraudada.
O voo saiu de Manágua, na Nicarágua, e pousou no aeroporto internacional de Dulles, em Washington D.C. A maioria dos ex-detentos foi levada para um hotel próximo, mas cerca de 15 deles foram levados para o hospital, de acordo com o Departamento de Estado nos Estados Unidos. Parentes e ativistas esperavam os passageiros no aeroporto agitando bandeiras nicaraguenses.
Depois de desembarcar em território americano, os ex-presos políticos relataram momentos traumáticos. O economista e político Juan Sebastián Chamorro disse que planejava ver sua esposa e filha “pela primeira vez em um ano e meio” e comer um “bom hambúrguer com batatas fritas”.
O ex-embaixador dissidente Arturo McFields, que rompeu com o presidente ditatorial da Nicarágua em março passado, chamou a medida de uma “libertação maciça de prisioneiros”. Os Estados Unidos alegaram que esses oponentes foram presos para que Ortega ganhasse outro mandato de cinco anos em uma eleição “fraudada”.
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Em junho de 2021, a repressão na Nicarágua teve início quando Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, agiram contra toda e qualquer oposição ao governo antes das eleições presidenciais de novembro. Dezenas de oponentes de Ortega foram presos no mês seguinte.
A reposta a repressão veio em 2018, quando houve uma grande revolta contra Ortega, que resultou em centenas de mortos e milhares de feridos. Outras dezenas de milhares de nicaraguenses fugiram para o exterior com medo do regime depois do início da repressão.
A autora nicaraguense Gioconda Belli, em exílio em Madri, expressou angústia com o rumo autoritário de seu país. “Sinto-me muito desolada com o que está acontecendo”, disse ela, sobre relatos de que os presos estavam sendo torturados em prisões da Nicarágua.
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Antony Blinken, secretário de Estado americano, falou que a liberação dos presos foi “um passo construtivo para lidar com os abusos dos direitos humanos” na Nicarágua. Segundo ele, a medida “abre a porta para um diálogo mais aprofundado entre os Estados Unidos e a Nicarágua”.
O governo nicaraguense não fez comentários sobre a libertação dos presos, mas emissoras controladas pelo estado publicaram que eles foram deportados para proteger a segurança nacional, a ordem pública e a paz.
“Os deportados foram declarados traidores da pátria”, disse o juiz Octavio Rothschuh Andino a um tribunal em Manágua, segundo o jornal estatal El 19 Digital. Todos perderam a cidadania nicaraguense, e há relatos de que o governo dos Estados Unidos está em negociações com a Espanha para que obtenham cidadania espanhola.