Uma investigação conjunta de emissoras públicas na Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia acusa navios da Rússia de sabotagem de parques eólicos e cabos de comunicação no Mar do Norte, em preparação para uma possível guerra com países ocidentais. Uma série de reportagens, fruto da apuração, vai começar a ser exibida nesta quarta-feira, 19.
De acordo com as alegações, as embarcações se disfarçam de navios de pesca e de pesquisa, mas carregam equipamentos de espionagem subaquática e mapeiam lugares para possível sabotagem.
Uma autoridade anti-espionagem dinamarquesa consultada pelas emissoras disse que Moscou planeja ações no Mar do Norte no caso de um conflito total com o Ocidente, que apoia defesa da Ucrânia contra a invasão russa. Já o chefe da inteligência norueguesa afirmou que o programa é considerado altamente importante para a Rússia e controlado diretamente pelo Kremlin.
Segundo análises da comunicação russa interceptada por autoridades nórdicas indicam que os chamados “navios fantasmas” navegam no Mar do Norte e desligam os transmissores para não revelar suas localizações.
O relatório se concentra em um navio russo chamado Almirante Vladimirsky. Oficialmente, este é um Navio Oceanográfico Expedicionário, ou embarcação de pesquisa subaquática. Porém, os investigadores alegam que é, na verdade, um barco espião russo.
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Um ex-especialista anônimo da Marinha Real britânica ajudou as emissoras a rastrearem os movimentos da embarcação nas proximidades de sete parques eólicos na costa do Reino Unido e da Holanda.
A investigação descobriu que o navio já viajou um mês com o rastreador desligado e desacelera quando se aproxima de áreas onde há parques eólicos. Quando um repórter se aproximou do navio em um pequeno barco, ele foi confrontado por um homem mascarado que carregava o que parecia ser um rifle.
De acordo com a BBC, as autoridades britânicas estão cientes da intenção russa de conduzir um “mapeamento submarino”, que inclui as águas do Reino Unido. O mesmo navio também já teria sido avistado na costa da Escócia, em 2022.
Em fevereiro deste ano, a inteligência holandesa emitiu um aviso oficial incomum sobre atividades que poderiam indicar planos de sabotagem da infraestrutura marítima. O chefe da inteligência militar do país, Jan Swillens, disse que um navio russo foi detectado perto de um parque eólico no Mar do Norte e atuava para mapear as águas.
“Vimos, nos últimos meses, atores russos tentando descobrir como funciona o sistema de energia no Mar do Norte. É a primeira vez que vimos isso”, disse o general Swillens.
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Até agora, evidências de sabotagem real, e não apenas da possibilidade de ataques, é mais limitada. Porém, o relatório aponta que essas embarcações podem estar ligadas a um incidente ao sul de Svalbard, arquipélago no ártico norueguês, no ano passado, quando um cabo de dados subaquático foi cortado.
O cabo servia a maior estação terrestre comercial do mundo para comunicações via satélite. A polícia norueguesa disse acreditar que “atividade humana” estava por trás da sabotagem, mas ainda não acusou ninguém oficialmente.
Na semana passada, a Noruega expulsou 15 funcionários russos por acusações de espionagem. Foi a mais recente de uma onda de expulsões em toda a Europa desde a invasão da Rússia na Ucrânia.
Em outubro de 2022, a polícia do Reino Unido relatou que outro cabo foi cortado nas Ilhas Shetland, na Escócia. O caso prejudicou gravemente as comunicações com o continente e autoridades disseram, na época, que provavelmente foi causado por “navios de pesca”.
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Cabos são regularmente cortados em acidentes e, até o momento, houve pelo menos um ato claro e significativo de sabotagem. Em setembro de 2022, partes do gasoduto Nord Stream, projetado para transportar gás da Rússia para a Europa, foram destruídas. Apesar de muitos terem acusado os russos do ataque, inquéritos também apontaram a participação de grupos pró-Kiev não conectados ao governo da Ucrânia.
A inteligência militar russa, o GRU, também é constantemente associada a sabotagens e envenenamentos. Uma equipe do GRU é acusada do envenenamento de um ex-oficial em 2018 e ligada ao ataque de um depósito de armas em uma floresta da República Checa.