Não há sinal de pausa das operações de Israel em Gaza, diz agência da ONU
Declaração ocorre um dia após Exército de Israel anunciar pausas diárias nos embates para possibilitar entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza
![Rafah, Faixa de Gaza](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/02/000_34J26Z7.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
O chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou nesta segunda-feira, 17, que tropas israelenses continuam em operação em Rafah, cidade superpovoada no sul da Faixa de Gaza, um dia após o Exército de Israel anunciar pausas diárias nos confrontos para possibilitar a entrada de ajuda humanitária na região.
“Há informações de que tal decisão foi tomada, mas o nível político diz que nada dessa decisão foi tomada”, disse Lazzarini. “Portanto, por enquanto, posso dizer-lhes que as hostilidades continuam em Rafah e no sul de Gaza. E que, operacionalmente, nada mudou ainda.”
“Por enquanto, não vejo nada que se qualifique para a definição de pausa”, acrescentou.
À agência de notícias Reuters, Lazzari afirmou que a UNRWA recebeu uma notificação militar por meio de um documento em inglês, sem nenhuma outra tradução, de que uma pausa seria instaurada. Em seguida, o comunicado foi contradito pelo governo. Na véspera, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou o plano de pausa a autoridades militares, dizendo que “era inaceitável para ele”, acrescentou a agência de notícias.
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Como ocorrerão as pausas
As suspensões momentâneas das hostilidades acontecerão, segundo o Exército, de 05h GMT às 16h GMT (2h às 13h no horário de Brasília) na estrada que liga a passagem de fronteira de Kerem Shalon — que fica próximo de Khan Yunis, bem no sul — à estrada Salah al-Din, mais ao norte. O território previsto na pausa não inclui, portanto, Rafah.
Por lá, moradores relataram à agência de notícias Reuters que militares de Israel avançaram nesta segunda-feira, por meio de ataques aéreos e terrestres, nas áreas central e ocidental da cidade. Os embates entre soldados e militantes do Hamas acontecem dentro do campo de Al-Shaboura, no sul de Rafah, onde milhares de deslocados palestinos estão abrigados. Não é a primeira vez, contudo, que o campo entra na mira israelense. No mês passado, Kareem Jarada, de 4 anos, e sua irmã, Mona, 2, foram mortos em um ataque aéreo.
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Fim do Gabinete de Guerra
Ainda nesta segunda-feira, Netanyahu dissolveu o Gabinete de Guerra do país. A coalizão formada nos primeiros dias de conflito com o Hamas, iniciado em 7 de outubro de 2023, após ataque do grupo extremista, era composta de seis membros.
A medida era esperada desde a saída do centrista Benny Gantz do governo, no último dia 9. Na ocasião, ele e Gadi Eisenkot, que também deixou a coalizão, disseram que o premiê fracassou em formar uma estratégia para o conflito. Mais de 36 mil palestinos e ao menos 1.200 israelenses foram mortos desde a eclosão do conflito. Estima-se, além disso, que 43 dos 120 reféns do Hamas foram mortos, ou seja, cerca de um terço daqueles mantidos em cativeiro na Faixa de Gaza.
É pouco provável que a medida de Netanyahu tenha repercussões significativas no conflito em Gaza, mas as ramificações políticas da decisão podem ser mais significativas. A dissolução do Gabinete de Guerra parece ser uma afronta deliberada aos aliados da coalizão de extrema direita que segura em pé o governo do premiê, incluindo o ministro da segurança nacional, Itamar Ben-Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que tentavam entrar no grupo desde a saída de Gantz.