O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou no domingo 19 que “não existe” um povo palestino. O comentário reflete a posição do novo governo de coalizão do país, o mais direitista de todos os tempos, que nesta semana avança com seu plano para reformular e reduzir os poderes do Judiciário.
“Não existe uma nação palestina. Não há história palestina. Não existe língua palestina”, disse Smotrich durante um discurso em Paris sobre a “artificialidade” do conceito da Palestina. Ele falou em um púlpito coberto com o que parecia ser um mapa de Israel, que incluía a Cisjordânia ocupada e partes da Jordânia.
Um líder colono de assentamentos israelenses em território palestino, Smotrich tem um histórico de fazer declarações ofensivas contra os vizinhos de Israel. No mês passado, ele pediu que a cidade palestina de Hawara, na Cisjordânia, fosse “apagada”.
O discurso ocorreu um dia depois que uma delegação israelense e palestina em uma reunião no Egito, mediada por autoridades egípcias, jordanianas e americanas, prometeu tomar medidas para reduzir as tensões que agitam a região desde que o governo de extrema direita chegou ao poder, no início do ano.
Isso reflete a influência limitada que os Estados Unidos, parceiros importantes e de longa data de Israel – que defende a chamada “solução de dois Estados” – têm sobre a nova gestão de Israel. Também levantou dúvidas sobre as tentativas de diminuir as tensões, tanto dentro de Israel quanto com os palestinos.
Durante as negociações de domingo no Egito, um atirador palestino realizou outro ataque a tiros em Hawara, ferindo gravemente um israelense. Só neste ano, mais de 85 palestinos foram mortos por forças israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, e 14 israelenses ou estrangeiros foram vítimas de ataques palestinos (apenas um fazia parte das forças de segurança do país).
O Ministério das Relações Exteriores da Palestina chamou os comentários de Smotrich de “racistas, fascistas e extremistas”.
A cúpula de domingo foi realizada antes do mês sagrado muçulmano do Ramadã, que começa esta semana. A festa judaica da Páscoa está marcada para abril, coincidindo com o Ramadã. O período é delicado, porque um grande número de fiéis judeus e muçulmanos deve chegar à Cidade Velha de Jerusalém. Espera-se também que um grande número de judeus visite um importante local sagrado de Jerusalém, conhecido pelos muçulmanos como Santuário Nobre e pelos judeus como Monte do Templo – ato que os palestinos veem como uma provocação. Em 2021, confrontos no local desencadearam uma guerra de 11 dias entre Israel e o Hamas, grupo que governa a Faixa de Gaza.
Israel capturou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza em 1967. Os palestinos buscam esses territórios para seu futuro estado independente.
O aumento das tensões com os palestinos coincide com protestos em massa dentro de Israel contra os planos do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, de reformular o sistema judicial. A coalizão de extrema direita disse que pretende aprovar uma parte fundamental da reforma – que dá à coalizão o poder de escolher juízes e de refutar decisões da corte por maioria simples – antes que o Knesset, o parlamento de Israel, tire um mês de férias a partir da próxima semana.
No domingo 19, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um telefonema a Netanyahu, pedindo cautela, segundo a Casa Branca, “na esperança de que uma fórmula de meio termo seja encontrada”.
O governo de Netanyahu diz que o plano visa corrigir um desequilíbrio de poder entre tribunais e o processo legislativo. Críticos avaliam que a reforma derrubaria o delicado sistema de freios e contrapesos da democracia israelense, abrindo espaço para autoritarismo. Além disso, Netanyahu pode usar a reforma como rota de fuga de seu julgamento por corrupção.