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Militares estupraram 70 pessoas em repressão a manifestações do Sudão

Ataque das forças pró-governo aconteceram em acampamento de Cartum; os civis exigem eleições democráticas após a deposição do ditador Omar Bashir

Por Da Redação
11 jun 2019, 15h00

Os militares do governo sudanês cometeram pelo menos 70 estupros durante a repressão aos protestos em Cartum, capital do país, na última semana, segundo informações das equipes médicas locais.

Apenas na segunda-feira 3, mais de 100 pessoas morreram e outras 700 ficaram feridas em um ataque dos militares a um acampamento de manifestantes na cidade. As denúncias dos estupros cometidos pelas Forças de Apoio Rápidas (RSF) se tornaram públicas apesar das restrições à comunicação no Sudão, mas a extensão da violência sexual permanece incerta. 

Um médico com acesso aos documentos arquivados no Comitê Central de Medicina, um grupo pró-reformista, afirmou que mais de 70 pessoas relataram ter sido estupradas durante e logo depois do ataque.

Um membro da equipe do Hospital Royal Care afirmou ter cuidado de oito destas vítimas – cinco mulheres e três homens. Em um segundo hospital, no sul de Cartum, um informante contou sobre dois casos semelhantes de estupro, incluindo um cometido por quatro dos militares da RSF. Diversas testemunhas também relataram histórias parecidas em redes sociais.

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Segundo as autoridades, o número real de vítimas deve ser bem maior que o registrado, já que muitas delas não buscam tratamento médico por medo de represálias, pela insegurança na cidade ou até mesmo pelos recursos limitados nas casas de saúde da capital, em meio ao conflito sangrento. Ativistas de direitos humanos e outros especialistas descrevem as denúncias de violência sexual como confiáveis.

Greve Geral

Uma greve geral convocada por civis chegou ao seu terceiro dia nesta terça-feira, 11, tentando reanimar o movimento de oposição enfraquecido pela repressão violenta da última semana.

Os manifestantes pedem a renúncia dos líderes militares do país, no controle de um período transitório de 3 anos desde a deposição do ditador Omar Bashir, no último mês de abril, depois de meses de protestos, recusando os pedidos por uma eleição civil imediata.

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Lojas estão fechadas e as ruas estão vazias por toda Cartum e na cidade vizinha, Omdurman, apesar de o fluxo de carros estar maior que no último domingo, quando a greve começou. Quatro manifestantes foram mortos em atos isolados de violência nas duas cidades ao longo do fim de semana.

Um dos principais diplomatas do governo americano deve chegar ao Sudão ainda esta semana. Tibor Nagy, secretário de Estado Adjunto dos Estados Unidos para Assuntos Africanos, deve fazer reuniões com os chefes militares e com a liderança dos protestos em Cartum. 

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As Forças Armadas do país se recusam a fazer qualquer concessão desde o início da greve, culpando o movimento de protesto pela “ameaça à nação e sua segurança.”

O tenente Jamaleddine Omar, parte do conselho militar de transição, disse na noite de domingo 9 que o bloqueio de ruas e o estabelecimento de barricadas pelos manifestantes é um crime grave.

“A técnica de fechar ruas e construir barricadas é um verdadeiro crime, já que priva as pessoas de seguir com suas vidas normais”, disse Omar.

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A autoridade ainda disse que as Forças pela Declaração de Liberdade e Mudança, uma coalizão de grupos pró-democracia, são culpadas por “todos os acontecimentos lamentáveis” dos últimos dias.

Os líderes dos protestos, com suas ações, “cruzaram a linha das práticas pacíficas e se tornaram grandes responsáveis pelo país e pela segurança do povo”, disse. “As RSF reforçaram sua presença pelo país para restaurar a normalidade.”

As conversas entre a oposição e o conselho militar estão paralisadas desde o mês passado e a situação se agravou depois depois da invasão no acampamento de manifestantes.

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A Associação de Profissionais Sudaneses, um grupo de sindicatos que convoca os protestos desde dezembro, pediu que seu povo persista com a greve geral, parte de uma campanha de desobediência civil para pressionar o governo provisório.

Nas redes sociais, a SPA postou vídeos e fotos mostrando as ruas desertas em Cartum. De acordo com seus líderes, a participação no ato em seu primeiro dia ultrapassou as expectativas. Eles pediram pela continuidade da “resistência pacífica”.

“A solução é conseguir que a vida seja paralisada”, disse um dos líderes sindicais. Segundo ativistas da causa civil, banqueiros, médicos, funcionários de controle do tráfego aéreo, pilotos, engenheiros elétricos e ecomistas já foram alvos de operações de censura dos serviços de inteligência.

A inteligência permanece cortada em Cartum e outros meios de comunicação estão significativamente restritos.

 

(com Reuters)

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