O povo napolitano é, naturalmente, afeito a grandes celebrações. Não era de se esperar, portanto, nem mesmo diante do trauma da pandemia do coronavírus que abalou a Itália nos últimos meses, qua a população do sul da Itália permanecesse em casa se o Napoli, o time de futebol da cidade, famoso mundialmente pela passagem de Diego Maradona, conquistasse um título diante do maior inimigo, a Juventus – uma rivalidade que extrapola as questões esportivas, tem raízes históricas, baseadas no preconceito do norte em relação ao sul do país.
Foi o que aconteceu na ultima quarta-feira, 17, na primeira grande final depois da paralisação do coronavírus, na qual a equipe azul venceu o time de Cristiano Ronaldo nos pênaltis, depois de um empate em 0 a 0 no tempo regulamentar, e conquistou seu sexto título da Copa Itália. O Estádio Olímpico de Roma estava com portões fechados, cumprindo os protocolos sanitários, mas não foi possível impedir a farra em Nápoles.
Cerca de 5 000 pessoas foram às ruas para festejar a conquista, sem qualquer preocupação com o distanciamento social. As cenas causaram preocupação em Ranieri Guerra, vice-diretor da Organização Mundial da Saúde. “Neste momento não podemos permitir isso. Lembrem-se do que ocorreu na partida da Atalanta no início da pandemia. Não gostaria que se repetisse”, afirmou em entrevista à emissora RAI, citando a partida entre Atalanta e Valencia, em Milão, apontada por especialistas como o “detonador” do vírus na cidade de Bergamo, sede da Atalanta, perto de Milão.
O diretor da OMS, no entanto, baixou um pouco o tom na sequência. “Felizmente aconteceu em Nápoles, onde o governador e o prefeito implementaram medidas rigorosas e a incidência do vírus é menor do que em outros lugares.” O prefeito, de fato, não parecia muito preocupado. “Ontem à noite, venceu o contágio da felicidade”, afirmou Luigi de Magistris à rádio La7, nesta quinta-feira.
O prefeito, torcedor fanático do Napoli, rejeitou totalmente a “bronca” da OMS. “Me parece um pouco exagerado, estamos há sete dias sem um único caso e na praça havia apenas napolitanos. É preciso parar com essa hipocrisia”.
No Twitter, Magistris foi além, provocando também o treinador da Juventus, Maurizio Sarri, que é napolitano, torcedor do Napoli e ex-técnico do time, portanto, considerado um “traidor”. “As emoções fortes tomaram Napoli. Sempre e apenas ‘força Napoli’. Somos fortes até em tempos de vírus. Bater a Juve de Sarri é uma grandíssima satisfação.”
Le emozioni forti sono targate Napoli.Sempre e solo forza Napoli!Siamo forti anche ai tempi del virus.Battere la Juve di Sarri è una grandissima soddisfazione.
— Luigi de Magistris (@demagistris) June 17, 2020
Na região da Campânia, cuja capital é Nápoles, apenas um novo contágio foi detectado na última quarta-feira. No total, desde o início da pandemia, foram 4.614 casos e 431 mortes por Covid-19 na região.