O comovente enredo das crianças encontradas, na sexta-feira 9, no meio da banda colombiana da selva amazônica reúne ingredientes que tocam pela bravura dos pequenos sobreviventes e pelo feliz desfecho. Depois de um acidente aéreo e de quarenta dias vagando pela floresta, o quarteto de irmãos — de 1, 4, 9 e 13 anos — foi achado com vida. Um dos integrantes do grupo de buscas que vasculhava a densa mata resumiu o que todos pensaram: “Milagre, milagre, milagre, milagre”. O monomotor trazendo a bordo as crianças, sua mãe e mais duas pessoas sumiu dos radares na manhã de 1º de maio e, segundo a primogênita, os adultos morreram na hora. Indígenas, eles, que escapavam da violência imposta em sua comunidade por uma dissidência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), demonstraram surpreendente conhecimento do terreno, sabendo se alimentar de frutos não venenosos e armando cabanas para se proteger. Desnutridos e desidratados, foram resgatados e conduzidos ao hospital, onde uma nova trama se desenrola. Os avós maternos agora pedem a guarda dos netos, alegando que o pai dos dois caçulas teria abusado sexualmente da mais velha, de quem é padrasto, e ainda praticado violência doméstica — o que ele nega. Enquanto a história resvala para o campo policial, segue a procura por Wilson, o pastor-belga que ajudou a equipe de buscas e acabou acompanhando o dramático périplo dos quatro irmãos.
Publicado em VEJA de 21 de Junho de 2023, edição nº 2846