Ao escolher Mikhail Mishustin como primeiro-ministro na quarta-feira 15, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afastou a possibilidade de ter um rival interno no governo e deixou clara a sua visão sobre o esvaziado posto que, em 2024, ele próprio deverá assumir – a tentativa de dar mais poder a seu futuro cargo por meio de uma reforma constitucional provocou a renúncia do agora ex-aliado Dmitri Medvedev. O burocrata Mishustin é um desconhecido na política russa, jamais assumiu um cargo eletivo e ganhou uma página em inglês na Wikipedia somente depois de sua nomeação.
Mishustin, de 53 anos, é doutor em economia pela Universidade Tecnológica Estatal de Moscou, mais conhecida como Stankin. Ingressou no serviço público em 1998, no quadro de funcionários do Ministério de Impostos como assistente de Boris Fedorov, chefe do Serviço Tributário Federal. Já chefiou essa área em 2010, quando declarou uma guerra contra sonegadores. Sob sua gestão, a Rússia arrecadou 64% mais impostos entre 2014 e 2018.
Sua ascensão na quarta-feira se deu depois de o então primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, o mesmo que faz dobradinha com Putin na Presidência russa desde 2008, pedir demissão junto com todo o gabinete. Medvedev reagira ao anúncio de Putin em favor de uma reforma constitucional para dar mais poder ao Parlamento e, consequentemente, à posição de primeiro-ministro. Putin não demorou para nomear o sucessor de seu aliado, apaziguado com um novo cargo no Conselho de Segurança da Rússia.
Sem passado político, Mishustin é um burocrata que trabalha sem chamar a atenção do grande público. Sua escolha ressoou pelos opositores como um alerta sobre a possibilidade de Putin se preparar para continuar no poder depois de 2024. Ao jornal americano The New York Times, o ex-primeiro-ministro e opositor do governo Mikhail Kasyanov disse que Putin deu “uma clara resposta” a esse questionamento. “Ele será presidente para sempre”, afirmou.
O portal Foreign Policy avalia Mishustin é uma escolha discreta sem capacidade de atuar como articulador político em Moscou, o que torna improvável uma possível pretensão de desafiar Putin.