A escalada de violência entre dois cartéis do México levou ao menos 700 pessoas a abandonarem suas casas no estado de Chiapas, no sul do país. A informação foi divulgada nesta terça-feira, 23, pela agência de notícias Reuters. Dezenas de mortes já haviam sido registradas nas últimas semanas, em meio a uma disputa entre os narcotraficantes de Jalisco New Generation (CJNG) e de Sinaloa pelo controle de rotas de contrabando.
As comunidades de Chicomuselo e La Concordia, em Chiapas, foram pegas no fogo cruzado. Na primeira, moradores relataram que, somente no dia 4 de janeiro, quando um sangrento confronto tomou as ruas do pequeno município, 20 pessoas foram mortas. Entre elas, estavam 18 membros das gangues e dois civis.
Em comunicado, a população desabafou sobre “a dor ao ver crianças e jovens tremerem de medo e adoecendo” devido às “experiências traumáticas”. Eles também acusaram o governo de inação. O estado de Chiapas, habitado por maioria indígena, é considerado um dos mais pobres do país e é de particular interesse dos grupos criminosos pela fronteira com a Guatemala, por onde são contrabandeadas drogas, especialmente cocaína, e imigrantes ilegais rumo aos Estados Unidos.
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Versão da promotoria
A promotoria de Chiapas, no entanto, rejeitou a versão apresentada pelos moradores. Cinco dias após os supostos assassinatos, o órgão publicou um comunicado em que dizia que não houve relato de vítimas na área.
Militares foram enviados para a região para combater o crime organizado, mas há risco de que civis sejam mortos em meio à troca de tiros com narcotraficantes. Sem saída, famílias decidiram cruzar a barco o lago Angostura para fugir da zona de conflito.
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Panorama no México
Em setembro do ano passado, estudo publicado na revista Science revelou que cartéis são o quinto maior empregador do México, com cerca de 175 mil “funcionários”. Os cientistas utilizaram uma década de dados sobre homicídios, desaparecimentos e prisões no país, além de informações sobre embates entre facções rivais.
Os índices de homicídio mais do que triplicaram entre 2007 e 2021, ano em que o governo registrou cerca de 34 mil assassinatos. Com isso, o México passou a ser considerado o país mais mortífero da América Latina. Acredita-se que ao menos 198 grupos armados tenham se estabelecido no país, muitos deles funcionando como subcontratados – espécie de milícia mercenária – em confrontos.