A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, assinaram nesta terça-feira, 22, um novo tratado de cooperação bilateral que prevê maior aproximação no setor de defesa. Segundo Merkel, o acordo será “uma contribuição” para a futura criação de uma força militar da União Europeia.
A proposta vinha sofrendo críticas de nacionalistas de ambos os países e do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que a vê como um sinal de descompromisso das duas maiores economias europeias com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
O texto foi assinado durante encontro de Merkel e Macron em Aachen, na Alemanha. Prevê uma convergência das políticas econômica, externa e de defesa de ambos os países, uma cooperação nas regiões transfronteiriças, assim como a criação de uma “assembleia parlamentar comum”, composta de 100 deputados franceses e alemães.
Assim que chegaram em Aachen, capital sob o império de Carlos Magno (742-814), Merkel e Macron foram vaiados por uma dúzia de pessoas, algumas das quais vestidas de coletes amarelos – símbolo dos protestos sociais que agitam a França desde dezembro.
A extrema direita dos dois países, bem como a esquerda radical, multiplicou os ataques ao novo tratado de cooperação, evocando a perda de soberania.
Nos últimos dias, circularam boatos sem fundamento sobre a suposta intenção da França de dividir com Berlim o assento permanente de Paris no Conselho de Segurança das Nações Unidas e até mesmo sobre a transferência da Alsácia e da Lorena à Alemanha.
“Os que se esquecem do valor da reconciliação franco-alemã são cúmplices dos crimes do passado. Os que ridicularizam ou propagam a mentira ferem os povos que fingem defender”, atacou o presidente francês.
O Palácio do Eliseu considerou necessário desmentir os boatos e publicou na segunda à noite em seu portal na internet um texto explicando “toda a verdade” do tratado.
Já o líder da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon, denunciou na segunda-feira 21 o “retrocesso da nossa soberania” e disse estar preocupado por ver “menos serviços e investimentos públicos, redução de salários”.
Na Alemanha, também na segunda-feira, o dirigente da extrema direita, Alexander Gauland, acusou Paris e Berlim de quererem criar, com esse tratado, uma “super-UE” dentro da própria União Europeia.
Desafiando as críticas, Macron e Merkel ressaltaram a intenção de ambos de convergir suas políticas. “Nós ratificamos nossa convergência econômica e social, a aproximação progressiva de nossas sociedades, a aproximação de regiões transfronteiriças, a criação de uma nova dinâmica”, disse Macron.
Tanto Merkel quanto Macron reafirmaram seu desejo de fazer emergir futuramente um corpo militar europeu e julgaram que seus países têm um papel central nesta questão. A França e a Alemanha adotaram uma “cláusula de defesa mútua” em caso de agressão, no modelo previsto pela Otan. Eles podem mobilizar meios militares juntos em caso de ataque terrorista ou cooperar em grandes programas militares.
Paris e Berlim esperam, com essa aliança, reafirmar o projeto europeu, enfraquecido por uma onda antieuropeia e a quatro meses das eleições europeias de maio.
“No momento em que a Europa se vê desestabilizada pelo Brexit e ameaçada pelos nacionalismos, por desafios que ultrapassam o quadro das nações, a Alemanha e a França devem assumir suas responsabilidades e mostrar o caminho”, disse o presidente francês.
Este acordo “completa” o Tratado do Eliseu, firmado em 1963 pelo general Charles de Gaulle, então chefe do Estado francês, e pelo então chanceler alemão Konrad Adenauer. O texto selou a reconciliação franco-alemã depois da guerra.
O atual tratado, porém, foi assinado por dois líderes enfraquecidos. Merkel se prepara para deixar o cargo em 2021, e Macron enfrenta uma crise social sem precedentes.