A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse nesta sexta-feira, 21, ter “sérias dúvidas” sobre o futuro acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul devido às ameaças à floresta amazônica. É a primeira vez que a Alemanha critica o acordo, juntando-se a diversos outros membros do bloco que temem um possível impacto ambiental causado pela aliança.
“Temos sérias dúvidas de que o acordo possa ser aplicado conforme planejado, quando vemos a situação” na Amazônia, afirmou o porta-voz da chanceler, Stephan Seibert.
O vasto acordo de livre comércio foi assinado no ano passado entre os membros da União Europeia e os países do Mercosul, que inclui Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Para ser validado, todos os Parlamentos nacionais devem ratificá-lo, o que ainda não ocorreu.
Até agora, a Alemanha era um dos grandes apoiadores da aliança comercial. As críticas inéditas feitas pelo governo nesta sexta-feira, contudo, aumentam o peso das críticas do lado europeu.
“A Amazônia preocupa o mundo todo”, afirmou o porta-voz da chanceler. “Estamos céticos”, completou, acrescentando que Berlim “levanta sérias dúvidas sobre a aplicação prevista” do acordo devido às “fortes preocupações” com o “desmatamento contínuo” e com os incêndios que aumentaram nas últimas semanas na Amazônia.
O Parlamento austríaco e o holandês já rejeitaram o acordo na sua forma atual. Outros países como Bélgica, França, Irlanda e Luxemburgo também expressaram hesitação.
Na sexta-feira da semana passada, a ombudsman da União Europeia, Emily O’Reilly – cuja função é melhorar a administração de órgãos do bloco –, decidiu abrir uma investigação sobre o acordo, atendendo a demanda de cinco ONGs sobre o estudo do impacto ambiental que seria causado. Diversos grupos ambientalistas expressaram preocupação sobre o que o tratado significaria para a Amazônia.
Após 20 anos de negociações, os dois blocos chegaram no ano passado a um princípio de acordo comercial. Atualmente, o texto está na etapa de tradução para todas as línguas oficiais da União Europeia, após a conclusão de sua revisão jurídica. Esta etapa deve ser concluída até outubro.
Se implementado, o acordo prevê que 92% das exportações do bloco sul-americano para os 28 países-membros do bloco europeu sejam isentas de impostos por um período de dez anos.
Para responder às críticas de ambientalistas e desconfiança de parlamentos europeus, um capítulo abordando a “conservação florestal” foi incluído no texto final.
A Alemanha – e sua poderosa indústria exportadora, especialmente a automotiva – até agora era favorável ao acordo. A posição assumida por Merkel vem no dia seguinte a um encontro entre a chanceler e os dirigentes do movimento ambientalista “Fridays for Future”, do qual participou a ativista Greta Thunberg, em Berlim.
As preocupações com as mudanças climáticas são amplamente compartilhadas pela opinião pública alemã e ganham cada vez mais peso no país, onde manifestações do movimento regularmente reúnem milhares de jovens ativistas. O Mercosul, que deseja estabelecer a aliança comercial o quanto antes, se vê cada vez mais longe do mercado europeu.
(Com AFP)