A líder do partido de extrema-direita Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, reivindicou a vitória na eleição geral que, ao que tudo indica, fará com que ela se torne a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra da Itália. Além disso, seu governo é o de mais extrema-direita desde a era fascista de Benito Mussolini.
Em um discurso na manhã desta segunda-feira, 26, Meloni disse que foi “uma noite de orgulho para muitos e uma noite de redenção”.
“É uma vitória que quero dedicar a todos que não estão mais conosco e queriam esta noite”, disse ela. “Este é um ponto de partida, não uma linha de chegada. A partir de amanhã, temos que mostrar nosso valor. Os italianos nos escolheram e não vamos traí-los, como nunca traímos.”
Ela pontuou que sua vitória representa uma evolução da direita italiana, enquanto os críticos avaliam que é um vestígio do antigo “Movimento Social Italiano” (MSI), que usava o mesmo símbolo.
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O Irmãos da Itália tem suas raízes no pós-fascista MSI, considerado um pária político pelo mainstream do país até ser dissolvido, em meados da década de 1990.
Os resultados preliminares do pleito indicam que a aliança de partidos de extrema-direita, liderada pelo ultraconservador partido Irmãos da Itália, de Meloni, conquistou pelo menos 44% dos votos, segundo o Ministério do Interior italiano.
Com quase todos os votos apurados, o partido Irmãos da Itália ganhou pelo menos 26%. Os parceiros de coalizão Liga, liderado por Matteo Salvini, levou cerca de 9%, e Força Itália, de Silvio Berlusconi, mais de 8%. Os resultados finais são esperados para esta segunda-feira, mas deve levar semanas até que um novo governo seja formado.
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A eleição antecipada foi desencadeada pela renúncia do primeiro-ministro Mario Draghi em julho, após o colapso de sua coalizão de partidos de esquerda, direita e centristas.
Meloni entrou na cena política italiana em 2006 e cofundou o Irmãos da Itália em 2012, um partido cuja agenda está enraizada no euroceticismo e políticas anti-imigração. Na última eleição, em 2018, o partido ganhou apenas 4,5% dos votos, mas sua popularidade disparou nos últimos anos, ressaltando a rejeição da Itália ao establishment político.
Meloni difere dos líderes dos parceiros da coalizão na questão da Ucrânia. Enquanto Berlusconi e Salvini disseram que gostariam de rever as sanções contra a Rússia por causa de seu impacto na economia italiana, Meloni tem sido firme em seu apoio à defesa da Ucrânia.
Uma mãe de 45 anos de Roma, Meloni é profundamente conservadora, abertamente anti-LGBT, e ameaçou revisar a legalidade do casamento gay, permitido na Itália desde 2016. Ela também chamou o aborto de “tragédia”, levantando temores sobre o futuro dos direitos das mulheres no país.
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Os resultados preliminares mostraram que a coalizão de centro-esquerda, liderada pelo Partido Democrata de esquerda e pelo partido centrista +Europa, ganhou cerca de 22% dos votos, enquanto a tentativa do ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte de reviver o Movimento Cinco Estrelas fracassou, com apenas de 15% dos votos.
Em um post no Facebook, Conte prometeu liderar uma “oposição intransigente”.
“Seremos o posto avançado da agenda progressista contra as desigualdades, para proteger famílias e empresas em dificuldade, para defender os direitos e valores da nossa Constituição.”
Debora Serracchiani, do Partido Democrata, também admitiu a derrota na manhã de segunda-feira, chamando os resultados de uma “noite triste para o país”.
Enquanto isso, partidos de extrema direita em outros países europeus também marcaram ganhos recentes, incluindo o partido anti-imigração da Suécia, o Democratas Sueco – com raízes neonazistas –, que ganhou a segunda maior parcela de assentos do parlamento em uma eleição geral no início deste mês. Na França, se a direitista Marine Le Pen perdeu a eleição presidencial francesa para Emmanuel Macron em abril, sua popularidade indica um deslocamento do centro político da França para a direita.
Em um post nas suas redes sociais nesta segunda-feira, Meloni dedicou sua vitória projetada a “todos os militantes, gestores, apoiadores e todas as pessoas que – nestes anos – contribuíram para a realização do nosso sonho, oferecendo alma e coração de forma espontânea e abnegada”.
“Não vamos trair sua confiança. Estamos prontos para levantar a Itália”, acrescentou.