Marrocos se torna quarto país árabe a retomar relações com Israel
Acordo mediado pelos Estados Unidos prevê, em retorno, reconhecimento da soberania marroquina na disputada região do Saara Ocidental
O Marrocos confirmou nesta quinta-feira, 10, que retomará suas relações com Israel “o mais rápido possível”. Em troca, os Estados Unidos, que já mediaram acordos entre Israel e outros três países árabes, passarão a reconhecer a soberania marroquina sobre o disputado território do Saara Ocidental.
Em telefonema com o presidente americano, Donald Trump, o rei marroquino Mohammed VI destacou que seu país “retomaria os contatos oficiais e as relações diplomáticas”. As nações não têm representantes em seus territórios desde a década de 2000.
“Hoje houve outro avanço HISTÓRICO! Nossos dois grandes amigos Israel e o reino de Marrocos concordaram em ter relações diplomáticas plenas, uma conquista maior para a paz no Oriente Médio!”, disse Trump no Twitter.
Another HISTORIC breakthrough today! Our two GREAT friends Israel and the Kingdom of Morocco have agreed to full diplomatic relations – a massive breakthrough for peace in the Middle East!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 10, 2020
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, celebrou o acordo e a retomada gradual de “voos diretos” entre os dois países. Em um pronunciamento transmitido pela televisão, ele também agradeceu ao rei do Marrocos pela “calorosa relação” entre ambos os países.
O Marrocos é o quarto país desde agosto a fechar um acordo para normalizar relações com Israel, depois de Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão. As propostas foram impulsionadas e mediadas pelo genro e assessor de Trump, Jared Kushner.
Os palestinos criticaram a retomada de relações, assim como fizeram após os três acordos anteriores, alegando que os países árabes retrocederam na busca da paz ao abandonaram a antiga demanda de que o reconhecimento de Israel depende da devolução das terras ocupadas em 1967, na Guerra dos Seis Dias, para a fundação de um futuro Estado.
Bassam al-Salhi, membro do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina, condenou o acordo. Segundo ele, a iniciativa é “inaceitável e aumenta a beligerância de Israel e sua rejeição dos direitos palestinos”.
“Qualquer retirada árabe da Iniciativa de Paz Árabe [de 2002], que estipula que a normalização, vem somente depois de Israel interromper sua ocupação de terras palestinas e árabes”, acrescentou.
Assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada são considerados ilegais pela Organização das Nações Unidas, com base no direito internacional. Só neste ano, Israel já autorizou a construção de ao menos 12 mil novas residências na Cisjordânia.
O movimento islâmico palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, disse que o acordo era um “pecado político”.
“É um pecado político que não serve à causa palestina e encoraja a ocupação a continuar negando os direitos de nosso povo”, disse Hazem Qassem, porta-voz do Hamas.
Enquanto isso, Trump, que deixará a Casa Branca em 20 de janeiro para que o democrata Joe Biden tome posse, afirmou que já assinou o reconhecimento da soberania do Marrocos sobre o Saara Ocidental. Ele afirmou que a medida é a única “solução justa e duradoura que garanta a paz e a prosperidade”.
Até esta quarta-feira, os EUA seguiam a posição da ONU em relação ao Saara Ocidental. A organização considera a região um “território não autônomo”, formalmente sob administração da Espanha. Um plebiscito para consultar a população local sobre o futuro da região vem sendo negociado há anos, mas sem sucesso. Os marroquinos, por sua vez, reivindicaram a área ocupada após a saída espanhola, ao fim da ditadura de Francisco Franco, em 1975.
As Nações Unidas afirmaram que sua posição “não mudou” depois do respaldo americano. O secretário-geral da organização, António Guterres, acredita que “a solução para a questão ainda pode ser encontrada com base nas resoluções do Conselho de Segurança”.
(Com AFP)