Os protestos em Hong Kong continuam nesta quinta-feira, 13, com centenas de pessoas se reunindo em um parque próximo ao Conselho Legislativo local, sem as cenas caóticas observadas no centro financeiro no dia anterior, quando 10.000 pessoas tomaram as ruas da cidade.
Na quarta-feira 12, policiais e ativistas se envolverem em violentos confrontos durante a manifestação contra um projeto de lei de extradição para a China.
Segundo anunciaram líderes da manifestação nesta quinta, um outro grande protesto está marcado para domingo, 16. A Frente de Direitos Humanos Civis também convocou uma greve em toda a cidade para segunda-feira, 17, com o objetivo de manter a pressão sobre o governo deste centro financeiro na Ásia. Os organizadores dos atos ainda pretendem convocar uma greve geral para a próxima semana.
Os manifestantes exigem que o projeto de lei para facilitar as extradições de dissidentes para a China seja abandonado permanentemente. A proposta seria votada ontem, mas foi adiada em razão dos protestos.
“Convocamos os cidadãos a unir-se às greves trabalhista, escolar e do comércio”, afirmou Jimmy Sham, coordenador da Frente de Direitos Humanos.
O governo de Pequim voltou a denunciar nesta quinta-feira como “distúrbios” as manifestações da véspera em Hong Kong. “Não foi uma manifestação pacífica, e sim distúrbios organizados”, afirmou o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang.
Pequim “condena firmemente” a violência e “apoia a reação” das autoridades de Hong Kong, completou.
Dezenas de milhares de manifestantes vestidos de preto, em sua maioria jovens, lotaram novamente na quarta-feira as ruas de Hong Kong contra o projeto de lei que, segundo os críticos, daria poder a Pequim para perseguir politicamente os opositores.
De acordo com as autoridades, 22 pessoas ficaram feridas, entre policiais e manifestantes.
Os confrontos aconteceram perto do Conselho Legislativo (LegCo, parlamento), onde o texto seria analisado em segunda leitura. Analistas afirmaram que este foi o maior episódio de violência desde 1997, quando Hong Kong, então colônia britânica, foi devolvido à China.
O parlamento, dominado por deputados favoráveis ao governo de Pequim, anunciou o adiamento do debate para “uma data posterior”.
Apesar do recuo, a líder do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, indicada em 2017 pelo Partido Comunista, disse que o processo seguirá seu trâmite. “A iniciativa não foi do governo chinês e os direitos da população de Hong Kong serão respeitados”, garantiu Lam.
Se a lei for aprovada, os manifestantes prometeram “incendiar” as ruas de Hong Kong. “A única coisa responsável agora é o Executivo retirar esse projeto ou, pelo menos, o colocar em uma gaveta para resolver a crise”, disse o deputado Fernando Cheung. “Se tentar aprová-lo, os protestos aumentarão e pode haver derramamento de sangue.”
O acordo “um país, dois sistemas”, estabelecido quando o Reino Unido devolveu Hong Kong à China, permite que a cidade goze de direitos que não existem no continente, incluindo a liberdade de expressão.
O caso
O projeto de lei apoiado por Carrie Lam permitiria a extradição de suspeitos procurados para a China continental, Macau e Taiwan, com as quais o governo de Hong King ainda não tem acordos sobre o tema. A norma permitiria, inclusive, o envio de fugitivos do regime chinês à Pequim.
Os críticos do texto consideram que o projeto das autoridades de Hong Kong pró-Pequim deixará a população à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado. O Executivo desta região semiautônoma defende que a lei vai preencher uma brecha jurídica e que é necessária, em especial para permitir a extradição para Taiwan de um cidadão de Hong Kong acusado de assassinato.
Chris Patten, o último governador britânico de Hong Kong, disse que o projeto de lei “será um golpe terrível contra o Estado de Direito, contra a estabilidade e segurança de Hong Kong, contra a posição de Hong Kong como um grande centro comercial internacional”.
Governos estrangeiros também expressaram preocupação, alertando para o impacto da lei sobre a reputação de Hong Kong como um centro financeiro internacional, e observando que estrangeiros procurados na China correm o risco de serem aprisionados em Hong Kong.
Juízes de Hong Kong estão preocupados com as mudanças, observando a falta de confiança nos tribunais do continente, bem como a natureza limitada das audiências de extradição.
(Com AFP)