Em carta publicada nesta sexta-feira, 2, mais de 800 autoridades dos governos nos Estados Unidos e na Europa denunciaram que as posturas dos seus próprios países em relação à guerra Israel-Hamas na Faixa de Gaza podem constituir “graves violações do direito internacional”.
“Existe um risco plausível de que as políticas dos nossos governos estejam contribuindo para graves violações do direito internacional, crimes de guerra e até limpeza étnica ou genocídio”, afirmou o texto.
A chamada “declaração transatlântica” declara que seus próprios governos correm o risco de serem cúmplices de “uma das piores catástrofes humanas deste século”. É o mais recente sinal da pressão sobre o governo de Benjamin Netanyahu, vinda inclusive de alguns dos principais aliados de Israel no Ocidente.
Críticas abertas
A declaração foi assinada por funcionários públicos dos Estados Unidos, da União Europeia e de 11 países europeus, incluindo o Reino Unido, França e Alemanha. O texto afirma que Israel não demonstrou “nenhum limite” nas suas operações militares em Gaza, “o que resultou em dezenas de milhares de mortes de civis evitáveis, […] e no bloqueio deliberado de ajuda humanitária, colocando milhares de civis em risco de inanição e morte lenta”.
As autoridades argumentam que a natureza do apoio militar, político ou diplomático dos seus governos a Israel “sem condições ou responsabilização” não só arrisca mais mortes do lado palestino, mas também põe em perigo as vidas dos reféns israelenses detidos pelo grupo terrorista Hamas, bem como a própria segurança de Israel e a estabilidade do Oriente Médio.
“As operações militares de Israel desconsideraram todos os importantes conhecimentos de contraterrorismo adquiridos desde o 11 de setembro. A operação não contribuiu para o objetivo de Israel de derrotar o Hamas e, em vez disso, aumentou a força do Hamas, do Hezbollah e de outros atores negativos”, afirmou a declaração.
Sem espaço para argumento
As identidades dos signatários não foram reveladas. No entanto, segundo a emissora britânica BBC, quase metade são funcionários com pelo menos uma década de experiência no governo.
Os responsáveis pela carta dizem que tentaram expressar as suas preocupações internamente com seus respectivos governos, mas foram “rechaçados por considerações políticas e ideológicas”.
A declaração sugere ainda que não parece não haver uma estratégia viável para neutralizar, de forma eficaz, a ameaça do Hamas, nem uma solução política para garantir a segurança de Israel a longo prazo. Em apelo aos governos dos Estados Unidos e da Europa, pede que “parem de afirmar ao público que existe uma lógica estratégica e justificável por detrás da operação israelense”.
Em resposta à carta, autoridades israelenses rejeitaram as críticas. A embaixada de Israel em Londres comunicou que estava sujeita ao direito internacional, dizendo: “Israel continua a agir contra uma organização terrorista genocida que comete crimes de guerra, bem como crimes contra a humanidade.”