Mais de 50 pessoas, incluindo um advogado americano e dezenas de figuras da oposição pró-democracia, foram detidas nesta quarta-feira, 6, em Hong Kong durante a maior operação até agora com base na lei de segurança nacional imposta por Pequim.
Em 2020 as autoridades chinesas retomaram o controle da ex-colônia britânica, um ano depois de uma mobilização popular sem precedentes no território, semiautônomo desde sua devolução em 1997.
As detenções, muitas delas relacionadas com as primárias celebradas pela oposição no ano passado, ilustram o aumento da pressão de Pequim. A polícia confirmou que 53 pessoas, incluindo um cidadão americano, foram detidas por “subversão” em uma operação que aconteceu durante a manhã e teve a participação de quase 1.000 agentes.
O secretário de Segurança de Hong Kong, John Lee, afirmou que as detenções eram “necessárias” e tinham como alvos pessoas que tentavam “afundar Hong Kong no abismo”.
Os partidários pró-democracia de Hong Kong são alvos de ataques permanentes desde que a China aprovou, no fim de junho do ano passado, uma lei draconiana de segurança nacional em resposta às grandes manifestações do ano passado.
Esta lei é definida pelos líderes chineses como uma “espada” suspensa sobre a cabeça de seus detratores. A norma almejava acabar com as grandes manifestações no território e reforçar o poder de Pequim sobre Hong Kong. Entre as punições previstas figura a detenção por mensagens publicadas nas redes sociais.
De acordo com os críticos, a lei representa um golpe fatal ao princípio de “um país, dois sistemas”, que garantia até 2047 uma série de liberdades inéditas na China continental Por este motivo, alguns ativistas decidiram partir para o exterior.
Em Pequim, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, afirmou que a medida desta quarta-feira afetava “apenas a liberdade de algumas forças externas e indivíduos em Hong Kong que conspiram para tentar abalar a estabilidade e a segurança da China”.
A operação foi direcionada contra proeminentes ex-deputados pró-democracia como James To, Andrew Wan e Lam Cheuk Ting, assim como contra ativistas mais jovens. Entre eles estão Gwyneth Ho, uma ex-jornalista de 30 anos que passou a atuar no movimento pró-democracia, e Tiffany Yuen, uma conselheira distrital de 27 anos.
Entre os detidos também está o americano John Clancey, advogado da Ho Tse Wai and Partners, um escritório especializado em questões de direitos humanos. Ele é o primeiro americano detido com base na lei de segurança nacional.
Pessoas ligadas a Joshua Wong, uma das figuras mais conhecidas do movimento pró-democracia, atualmente detido, informaram na página do Facebook do ativista que a casa dele foi alvo de uma operação.
De acordo com nomes importantes do movimento pró-democracia, as detenções estão relacionadas com as primárias celebradas em julho pela oposição, antes das legislativas que estavam previstas para setembro. Com o pretexto da epidemia de coronavírus, o governo adiou por um ano as eleições, nas quais a oposição pretendia capitalizar a popularidade da mobilização de 2019.
Desde o início das manifestações, mais de 10.000 pessoas foram detidas e nos tribunais se acumulam acusações contra deputados da oposição e figuras importantes do movimento pró-democracia. Mais de 10.000 pessoas foram presas nos últimos 18 meses em Hong Kong, incluindo a maioria dos principais ativistas e figuras da oposição.