Maduro quer ganhar tempo e se perpetuar no poder, diz premiê espanhol
Para Pedro Sánchez, o venezuelano pede diálogo apenas para ganhar tempo. Ele reiterou, contudo, que nada justifica uma intervenção militar
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, afirmou nesta quarta-feira, 27, que o ditador venezuelano Nicolás Maduro não tem a intenção de dialogar ou ter “uma negociação sincera” com os países que se opõem ao seu governo. Apesar das críticas, o espanhol reafirmou sua contrariedade a uma possível intervenção militar na Venezuela.
Sánchez indicou que Maduro usou os mecanismos de diálogo apenas como “um instrumento para ganhar tempo e se perpetuar no poder” e julgou que as eleições realizadas em maio de 2018, nas quais o chavista foi reeleito com 67,7% dos votos e uma abstenção de 57% do eleitorado, “não foram livres, justas ou críveis e, portanto, carecem de legitimidade democrática.”
Segundo ele, a convocação de “eleições livres, democráticas, transparentes e com todas as garantias é a única solução possível para a profunda crise que vive o país” latino-americano.
Durante um pronunciamento ao Parlamento da Espanha, Sánchez ainda afirmou que sua administração estuda a possibilidade de um status migratório alternativo para os venezuelanos que pediram proteção à nação europeia mas não se encaixam no perfil de refugiados. Ele detalhou que mais de 20.000 venezuelanos entraram com o requerimento de asilo em 2018 e disse que “não busca colocar ou tirar governos e presidentes da Venezuela”, reiterando que a via eleitoral é a única saída para a crise.
Nos últimos meses, Sánchez e Maduro vêm trocando provocações em seus discursos. Na terça-feira 26, em pronunciamento na televisão venezuelana, o ditador venezuelano enfatizou a sua ascendência espanhola por parte do avô, Pablo Antonio Moros, e clamou seu direito ao passaporte e cidadania do país, insinuando até que poderia concorrer às eleições presidenciais na nação europeia.
Segundo Maduro, sua popularidade na Espanha é alta o suficiente para que ele ganhe uma eleição hipotética “com mais de 50% dos votos”, já que seus cidadãos “apoiam a revolução bolivariana.”
“O povo da Espanha admira a luta da revolução venezuelana. Se eu fosse para lá e me candidatasse a presidente, ganharia com mais de 50% dos votos, porque seu povo quer uma grande mudança”, discursou. Ele ainda disse que pensava em se candidatar para “dar uma surra na elite capitalista e corrupta” do país.
No dia 15 deste mês, depois de ter seu orçamento federal reprovado pelo Parlamento, Sánchez anunciou eleições gerais antecipadas na Espanha para o próximo dia 28 de abril. Ele afirmou que seu mandato fica impraticável sem os fundos para investir e propôs a dissolução das Câmaras, que foi acatada. O novo pleito será o quarto em oito anos, e, segundo pesquisas, deve favorecer a formação de uma maioria parlamentar conservadora.
Membro do Psoe, o Partido Socialista Operário Espanhol, o primeiro-ministro assumiu o cargo em junho de 2018 e controlava apenas 84 das 350 cadeiras do Parlamento. Ele chegou à liderança do país quando sua legenda se coligou com o Podemos, de esquerda, e com agremiações nacionalistas das regiões espanholas para aprovar uma moção de desconfiança contra o então premier Mariano Rajoy, do PP, envolvido em escândalos de corrupção.
Desde então, o socialista dependia dessa frágil coalizão informal, que se desfez quando perdeu os votos das legendas separatistas catalãs, que se recusaram a aprovar o Orçamento sem a garantia da realização de um referendo de autodeterminação da Catalunha, demanda negada parcialmente por Sánchez.
(com Agência EFE, AFP)