“A reforma será levada adiante”. O presidente francês, Emmanuel Macron, advertiu seus compatriotas nesta terça-feira, 31, em seu discurso de fim de ano, que seguirá adiante com a reforma da Previdência, apesar dos protestos dos sindicatos que lideram uma das greves dos transportes mais longas do país em décadas.
A greve na França, que nesta terça completou 27 dias e tem forte adesão de funcionários dos transportes coletivos, visa a derrubar o projeto de reforma previdenciária do governo.
Esta greve já é mais longa que a de 1995, quando o então governo acabou desistindo da reforma da previdência.
“Me dou conta do quanto as decisões adotadas podem ofender e causar medo”, admitiu o presidente. “Temos que renunciar a mudar o nosso país, nossa vida diária? Não. Pois isso significaria abandonar aqueles que o sistema já abandonou (…) É por isso que a reforma das aposentadorias será levada adiante”, insistiu.
O presidente destacou que a reforma levará “em conta os trabalhos de risco para permitir que estes trabalhadores se aposentem mais cedo, sem que isto esteja vinculado a um status ou empresa”.
E acrescentou que espera “encontrar um compromisso rápido” com os líderes sindicais, que pedem que se deixe o projeto.
As reuniões entre sindicatos e o primeiro-ministro Edouard Philippe serão retomadas no dia 7 de janeiro. Dois dias depois está previsto um novo dia de mobilização nacional contra o projeto.
A previdência é um tema delicado na França, pois a população é muito apegada a um sistema de repartição conhecido, até agora, por ser um dos mais protetores do mundo.
O governo quer fundir em um sistema único os 42 planos de aposentadoria diferentes que às vezes marcam idades diversas de aposentadoria, levando em conta as especificidades de cada profissão. Além disso, inclui um forte incentivo ao trabalho até os 64 anos, contra os 62, idade “legal” de aposentadoria.
‘Apaziguamento’
Praticamente calado sobre o tema há semanas, Macron limitou-se a pedir trégua ao movimento por causa do Natal e anunciou que renunciará à sua aposentadoria de presidente, antes de sair para descansar em uma residência oficial no sul da França.
Em sua mensagem, muito aguardada, o chefe de Estado não mencionou a possibilidade de alterar a idade de equilíbrio, fixada em 64 anos, para se ter direito à aposentadoria integral.
Na maioria presidencial, no entanto, alguns pediram que Macron revisse este ponto. Cerca de 15 deputados, principalmente da ala à esquerda do partido presidencial LREM, pediram nesta terça-feira em uma tribuna de imprensa uma “alternativa” a esta idade de equilíbrio, considerada “socialmente injusta”.
Os sindicatos, por sua vez, se mantêm firmes. Embora a incidência da greve nos trens de longo percurso e os transportes parisienses tenham caído nos últimos dias, o braço do setor químico do sindicato francês CGT convocou o bloqueio das instalações petroleiras – refinarias, terminais e depósitos – de 7 a 10 de janeiro para pressionar o governo.
Na noite desta terça, o presidente Macron avaliou que o “apaziguamento sempre deve primar sobre o confronto”.
A greve nos transportes poderia, assim, se estender até a retomada das negociações. Neste caso, chegaria, com 29 anos, o recorde da greve mais longa da SNCF (companhia nacional de trens) em 30 anos.
Contudo, a segunda marcou uma sutil melhora no funcionamento dos transportes na região parisiense, embora permaneçam afetados pela paralisação. Igualmente, a taxa de grevistas na SNCF caiu a 7,7% – muito longe do que havia no começo da greve, em 5 de dezembro (55,6%).
A SNCF informou nesta terça que no fim de semana, entre 3 e 5 de janeiro, coincidindo com o retorno de muitos franceses das férias, vão circular dois em cada três trens de alta velocidade.
Entre os trens que atendem a região parisiense, circulam apenas um de quatro e três regionais de dez, enquanto as 14 linhas do metrô da capital funcionam normalmente. No entanto, nesta véspera de ano novo, as linhas automatizadas só vão circular as linhas automatizadas até as 02h15 de quarta (22h15 de terça, horário de Brasília).