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Lugar mais perigoso para jornalistas não é na guerra, mas a América Latina

Em 2022, houve um recorde de mortes na região; México e Haiti lideram o ranking

Por Da Redação
Atualizado em 26 jan 2023, 13h34 - Publicado em 26 jan 2023, 13h31

Francklin Tamar, jornalista de artes e cultura da haitiana Rádio Solidarité, foi assassinado por dois criminosos não identificados perto de sua casa, em Porto Príncipe, na noite de 18 de dezembro de 2022. Sua morte é a última da categoria registrada em 2022, um ano marcado pelo recorde de letalidade de jornalistas na América Latina.

Dados do Reuters Institute da Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostram que 2022 foi o ano mais letal para jornalistas na região e a América Latina se tornou o lugar mais mortal para a categoria no mundo.

México e Haiti lideram a contagem. Onze jornalistas foram mortos no México em 2022, que se tornou o país mais perigoso do mundo para os profissionais da área, superando zonas de guerra ativas como a Ucrânia e a Síria.

Em 2022, o número de jornalistas mortos na região varia entre 30 e 42. Mesmo com a dificuldade em categorizar as mortes e a possibilidade de subnotificação – há limitações em avaliar se o motivo dos ataques se baseia em uma retaliação direta à atividade jornalística das vítimas –, os dados são alarmantes, segundo Carlos Martínez de la Serna, diretor de programas do Comitê de Proteção aos Jornalistas.

No entanto, a notícia não é uma surpresa. “Isso acontece em um contexto de declínio da liberdade de imprensa, de estados cada vez mais autoritários, de estados mais agressivos contra o sindicalismo e o jornalismo e também no contexto da impunidade”, afirmou Martínez, em entrevista ao Reuters Institute.

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Jornalistas mexicanos contam que vivem uma realidade de violência. Rocío Gallegos, jornalista e co-fundadora do La Verdad Juárez, um veículo de jornalismo investigativo em Juárez, contou que recebeu tantas ameaças que a equipe foi obrigada a estabelecer protocolos de segurança, como o monitoramento constante de quem escreve artigos sobre assuntos delicados, que vão do crime organizado ao meio ambiente.

“Fazer jornalismo é muito complexo hoje em dia, não só por causa dessas condições crescentes [de violência], mas também porque há cada vez menos apoio da sociedade aos jornalistas e ao jornalismo”, disse Gallegos ao Reuters Institute.

Entre as razões para o cenário de insegurança dos jornalistas está o discurso de vilanização contra a categoria por líderes políticos. Mais de 170 jornalistas mexicanos enviaram uma carta ao presidente do país, Andrés Manuel López Obrador, exigindo que ele pare “sua perseguição a jornalistas críticos”.

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Conhecido como AMLO, o líder mexicano já chamou os profissionais de “hipócritas”, “marionetes” e “elitistas”. Além disso, rejeitou a carta e afirmou que os jornalistas signatários não haviam escrito reportagens imparciais sobre seu governo.

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No Haiti, número dois no ranking de mortes de jornalistas na América Latina, nove jornalistas foram mortos em 2022. Os profissionais da área descrevem um ambiente em que têm medo de cobrir certos assuntos, o que deixa uma lacuna na cobertura, pois menos pessoas estão dispostas a colocar suas vidas em risco.

“Muitos jornalistas não desenvolvem interesse em investigações por causa do que os jornalistas estão vivenciando”, diz Raoul Junior Lorfils, jornalista e editor-chefe da agência de notícias Loop Haiti, ao Reuters Institute. “[O governo] faz você parecer um inimigo ou alguém que está apenas fazendo o trabalho da oposição.”

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Para 2023, o Reuters Institute não espera grandes melhorias no clima do jornalismo na América Latina se chefes de Estado continuarem com uma retórica hostil à imprensa.

Para o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, o aumento na violência contra jornalistas está acompanhado de uma maior gama de assuntos considerados “vulneráveis”. Além de tópicos como corrupção política ou crimes organizados, os jornalistas agora também se sentem inseguros ao cobrir questões ambientais, relacionadas a comunidades locais ou indígenas, e imigração.

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