Um dia depois de Donald Trump ser consagrado presidente eleito dos Estados Unidos, dezenas de líderes europeus se reuniram para uma cúpula em Budapeste, a capital húngara, nesta quinta-feira 7, na qual se debruçarão sobre as possíveis consequências do novo governo americano para o continente. Ao longo da campanha, o republicano fez ameaças, desde uma guerra comercial com a Europa até a retirada de seu país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que seria acompanhada do fim do apoio à Ucrânia na guerra com a Rússia.
A série de conflitos geopolíticos “está colocando a paz, a estabilidade e a prosperidade em risco em nossa região”, disse a carta-convite da cúpula aos líderes da Comunidade Política Europeia, que une quase 50 nações em todo o continente, exceto Rússia e Belarus.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já conhece os perigos de um governo trumpista. Durante a gestão de 2017-2020, a Casa Branca aplicou tarifas sobre aço e alumínio da União Europeia, com base na alegação de que produtos estrangeiros, mesmo os produzidos por aliados americanos, representam uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos.
Na época, europeus e outros aliados retaliaram com impostos sobre motocicletas, uísque, manteiga de amendoim e jeans feitos em solo americano, entre outros itens. Agora, Trump promete impor uma tarifa universal de 10% a todos os produtos importados, abrindo a possibilidade de retaliação em cadeia e dificultando o comércio global.
Otan e guerra na Ucrânia
Fora a economia, o impacto do resultado da eleição americana poderá ser sentido em questões como as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, bem como imigração e mudanças climáticas.
Entre os líderes que foram a Budapeste está o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que deve fazer outro apelo por mais ajuda militar enquanto seu país se defende da invasão de Moscou. O momento é carregado de significado, pois Trump prometeu acabar com a guerra “dentro de 24 horas” após ser eleito.
Os líderes em Kiev interpretam a fala como uma iminente evaporação do apoio dos Estados Unidos, que sob o republicano podem suspender os aportes de armas e dinheiro e se contentarem com um fim da guerra que envolva a concessão do 20% de território ocupado pelos russos a Vladimir Putin.
Além de não reconhecer nenhum mérito na ajuda americana à Ucrânia, Trump afirmou num comício deste ano ter dito a um país aliado que, se os parceiros da Otan não pusessem mais dinheiro na aliança, deixaria a Rússia “fazer com eles o que bem entendesse”.
Diante da ameaça de Trump, líderes europeus correm para tentar blindar a Otan, essa aliança agonizante herdada da Guerra Fria que ressuscitou como pilar da resistência ucraniana. Neste ano, pela primeira vez em décadas, os países europeus que integram a organização gastarão em conjunto 2% de seu PIB — 380 bilhões de dólares — revigorando suas Forças Armadas. Além disso, traçam planos para reduzir o papel dos Estados Unidos na dissuasão nuclear, assumindo eles mesmos o poderio bélico convencional — infantaria, armamentos, logística e artilharia.
Clube dos populistas
Já para as forças populistas e de extrema direita dentro da União Europeia, que já conseguiram adentrar o establishment político, a eleição de Trump dá uma injeção de adrenalina no braço.
Para o anfitrião da cúpula e fã fervoroso de Trump, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a quarta-feira foi um dia de celebração. “Vejo uma vitória brilhante, talvez o maior retorno e luta gigante na história política ocidental. Para o mundo, significa a esperança pela paz”, disse ele.
O líder populista da Sérvia Aleksandar Vučić, outro convidado da cúpula, ficou igualmente entusiasmado. “A Sérvia está comprometida com a cooperação com os EUA em estabilidade, prosperidade e paz”, disse Vučić.