O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, inaugurou uma nova cidade na divisa com a China, Samjiyon, com 10.000 imóveis, nesta terça-feira, 3. O projeto foi executado ao longo de dez anos, segundo a Agência Central de Notícias Coreana (ACNC). Há suspeitas de que teria sido levantada com trabalho escravo.
A localidade, porém, foi descrita pelo regime como uma “utopia sob o socialismo” e como um “epítome da civilização moderna” e “utopia sob o socialismo” pela agência de notícias estatal.
De acordo com as autoridades, Samjiyon poderá acomodar 4.000 famílias. A cidade abarca “centenas de hectares” em 380 quarteirões de construções públicas, dentre elas um museu, e um estádio e galpões industriais – como uma fábrica de tratamento de mirtilo e batata, os dois recursos mais importantes da região.
A inauguração ocorreu depois de terminada a segunda etapa do projeto de construção da cidade. Outras duas fases devem ser finalizadas até outubro de 2020 a pedido de Kim Jong-un, relatou o portal americano NK News, especializado na cobertura da Coreia do Norte.
De acordo com um relatório da ACNC do dia 21 de novembro, a terceira etapa envolve “levantar as áreas nos arredores [de Samjiyon]” e em “fazendas”. Pyongyang não informou o custo do projeto.
Trabalho escravo
“Nós temos evidências de que houve trabalho da população local no projeto [de Samjiyon]. A mídia estatal se orgulha disso, embora [chame os trabalhadores] de voluntários” disse à emissora britânica BBC o correspondente do NK News, Colin Zwirko.
“Brigadas de trabalho infantil”, como afirma o jornal britânico The Guardian, também foram utilizadas na construção da cidade. Desertores do regime e ativistas de direitos humanos denunciam essas brigadas como grupos submetidos ao “trabalho escravo”.
“Eles [os membros das brigadas] não recebem nenhum pagamento, são mal alimentados e forçados a trabalhar por mais de 12 horas ao dia em troca do ingresso em uma universidade ou no governo”, relata o Guardian.
Monte do ‘arco íris duplo’
Samjiyon está no nordeste do país, a cerca de 30 minutos da fronteira com a China. A cidade foi construída a apenas 50 quilômetros do topo do monte Paektu, um vulcão provavelmente ativo — segundo reportagem da National Geographic, de 2016 —, que foi apropriado pela dinastia Kim para engrandecer sua imagem.
Kim Jong-il, pai do atual ditador, teria nascido em Paektu enquanto um arco íris duplo aparecia sob o céu e uma nova estrela nascia, em 1941, segundo a versão do Estado norte-coreano. Como reporta o jornal britânico The Telegraph, ele nasceu de fato na Rússia, em 1942.
A associação entre o regime e o monte começou com a primeira geração dos ditadores — Kim il-Sung, fundador da Coreia do Norte e avô do atual ditador. Kim il-Sung teria liderado uma “marcha a cavalo” de Paektu, um evento de “grande importância para a história da revolução coreana”, segundo a ACNC.
Em outubro, a ditadura divulgou fotos sem data de Kim Jong-un montado em um cavalo branco em Paektu.
(Com AFP)