O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, cruzará a pé a linha de demarcação militar que divide as duas Coreias para a histórica reunião cúpula da próxima sexta-feira, informou hoje (26) o gabinete da presidência de Seul.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, esperará por Kim do outro lado da divisória, às 9h30 no horário local (21h30 desta quinta-feira em Brasília). Ambos serão escoltados por uma guarnição de honra até Peace House, o edifício que abrigará o encontro e que está localizado na margem sul da militarizada fronteira intercoreana.
Desta maneira, Kim se tornará no primeiro líder norte-coreano a pisar em solo sul-coreano desde o final da Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com o cessar-fogo. Até hoje, os dois países ainda não assinaram o tratado de paz e vivem em situação de conflito latente.
O governo sul-coreano informou que, depois de uma cerimônia de boas-vindas e de uma breve conversa informal, a primeira rodada da cúpula terá inicio às 10h30 (hora local). Entre os nove delegados designados por Pyongyang estão o presidente honorário do país, Kim Yong-nam, o ministro das Relações Exteriores, Ri Yong-ho, e a irmã de Kim Jong-un, Kim Yo-jong, que ocupa o cargo de diretora de propaganda e cuja visita histórica ao Sul durante os Jogos Olímpicos de inverno, no mês de fevereiro, promoveu o encontro entre os dois líderes.
Os dois presidentes vão almoçar separadamente. Depois, plantarão uma árvore, em uma cerimônia simbólica. No final da reunião, Moon e Kim vão assinar um acordo e realizar um “anúncio”, explicou um porta-voz de Seul. “O onde e como será anunciado será determinado pelo conteúdo do acordo”, afirmou.
O banquete, no qual Seul espera que possa participar a mulher Kim Jong-un, Ri sol-ju, começará às 18h30 (hora local), seguido da “cerimônia de despedida”.
Desnuclearização norte-coreana
O tema de maior expectativa da cúpula é a desnuclearização da Coreia do Norte, algo que os Estados Unidos exigem e que Kim Jong-un já sinalizou estar disposto a fazer. Mas o tema ainda é cheio de incógnitas e divide os especialistas.
Kim Jong-un anunciou, por meio de intermediários, que o fim do programa atômico do país será debatido tanto no encontro desta sexta-feira quanto na sua futura reunião de maio ou junho com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Recentemente, a Coreia do Norte informou a interrupção dos testes com mísseis e bombas nucleares e o desmantelamento de seu centro de testes atômicos. Com cautela, o gesto gerou expectativa sobre o fim do programa nuclear do país.
O governo sul-coreano disse que esse tema será o foco do encontro e que a meta de Moon é conseguir uma península livre de armas nucleares. “A desnuclearização não será o principal tema da cúpula; o principal será o princípio de desnuclearização, em si. Haverá só um acordo muito básico”, declarou Jo Dong-joon, vice-diretor do Instituto de Estudos para a Paz e a Unificação da Universidade de Seul e especialista em desnuclearização.
O chamado “princípio de desnuclearização” é um dos cinco pontos do plano que Moon apresentou ao parlamento em novembro passado para conseguir a paz na península coreana e se baseia na declaração conjunta que as duas Coreias assinaram em 1992.
Em virtude do documento, os dois países se comprometeram a não possuir, testar ou produzir armas atômicas e não operar instalações para produzir urânio para tais bombas. Trata-se do contrário do que Pyongyang tem feito desde os anos 90, quando iniciou o desenvolvimento de um programa armamentista.
Jo disse acreditar que Moon pretende recuperar esse acordo geral – nunca implementado por causa das desavenças sobre como inspecionar e verificar de maneira recíproca o cumprimento do estipulado no texto. Seria um primeiro passo para preparar o terreno para uma futura negociação com os Estados Unidos.
Por outro lado, o professor Mun In-chul, ligado à mesma instituição, opinou que Kim Jong-un pretenderá colocar na cúpula uma série de condições para que o regime norte-coreano opte pela desnuclearização.
“A parte mais espinhosa é a retirada das tropas americanas da Coreia do Sul, o que acho que Pyongyang vai exigir”, disse o especialista.
O presidente sul-coreano garantiu, porém, que o Norte se comprometeu a não cobrar essa medida, explicou Mun, que estuda as relações entre as Coreias. “Seul está em uma posição muito incômoda porque essa exigência condicionaria a aliança com Washington, existente desde o fim da Guerra da Coreia “, acrescentou.
O especialista diz acreditar que Moon insistirá na assinatura de um tipo de acordo de paz que ponha fim ao regime existente na península desde a declaração de cessar-fogo.
Esse assunto também é tecnicamente muito complexo, já que o documento que interrompeu a guerra foi assinado por Estados Unidos, como líder do contingente da ONU (no qual está a Coreia do Sul), Coreia do Norte e o chamado exército de voluntários chineses.
Segundo Mun, um “tratado de paz” requereria a participação de mais envolvidos e a realização de mais cúpulas no futuro. Moon já se mostra disposto, o que indica que o presidente sul-coreano contempla a reunião de sexta-feira como um passo preparatório para a cúpula entre Kim e Trump e outros encontros futuros.
(Com EFE)