Justiça argentina condena brasileiro a 10 anos por tentativa de assassinar Cristina Kirchner
Fernando Sabag Montiel disparou contra ex-presidente em frente à sua casa em 2022, mas arma falhou; Namorada dele foi condenada a oito anos

A Justiça da Argentina condenou nesta quarta-feira, 8, o brasileiro Fernando Sabag Montiel, a dez anos de prisão, e sua namorada, Brenda Uliarte, a oito anos, pela tentativa de assassinato da ex-presidente Cristina Kirchner. Em setembro de 2022, enquanto ela cumprimentava apoiadores em Buenos Aires, ele disparou o gatilho a centímetros do rosto da então vice, mas a arma falhou. O atentado chocou a sociedade da nação sul-americana e reavivou memórias da violência política da ditadura civil-militar.
A pena de Sabag foi unificada com uma condenação anterior, de quatro anos, por posse e distribuição de material que promovia abuso sexual infantil, totalizando 14 anos de prisão para ele. Antes da leitura da sentença, o réu voltou a dizer aos juízes que o caso estava repleto de irregularidades.
“Este caso foi armado e isso é conhecido. Eles plantaram uma arma”, alegou ele, que nasceu no Brasil e tem nacionalidade argentina, tendo vivido no país desde 1993. Uliarte optou por não se pronunciar.
Relembre o caso
Em 1º de setembro de 2022, Cristina cumprimentava apoiadores em frente ao seu apartamento em Buenos Aires quando o brasileiro Fernando Sabag Montiel, que havia se misturado à multidão, tentou atirar duas vezes contra sua cabeça. A arma emperrou e ele foi detido pelos presentes.
Mais tarde, a polícia prendeu sua namorada, Brenda, e, semanas depois, Nicolás Carrizo, amigo e empregador do casal acusado de ser um participante no ataque fracassado. A juíza María Eugenia Capuchetti indiciou apenas os dois primeiros por tentativa de homicídio, depois que a promotoria constatou que Carrizo não tinha conhecimento do plano.
Sabag Montiel, também motorista ocasional de uma locadora de veículos e cheio de de tatuagens com símbolos nazistas, tem uma personalidade “narcisista” e um discurso “extravagante” com elementos de hostilidade a Kirchner, segundo especialistas. Por sua vez, Uliarte é acusada de ser “coautora” e de instigadora.
Kirchner nunca aceitou que o trio, que sobrevivia vendendo algodão-doce na rua, fosse capaz de planejar um assassinato sem apoio. Durante a investigação, os advogados da vice-presidente pediram que os promotores investigassem se eles receberam financiamento externo. Foram citados um legislador da oposição, Gerardo Milman, e uma organização de extrema direita chamada Revolução Federal.
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Milman está ligado a Patrícia Bullrich, ministra da Segurança do governo de Javier Milei. Já a organização ficou famosa por lançar tochas contra a Casa Rosada e fazer uma manifestação contra Kirchner com uma imagem de sua cabeça decapitada por uma guilhotina.
No entanto, segundo o procurador Carlos Rívolo, responsável pela investigação, os responsáveis pelo crime “não receberam qualquer quantia em dinheiro durante os dois anos anteriores ao ataque que sugerisse que tivessem sido financiados para a prática de um ato como o aqui investigado”.
Ao longo do processo, Sabag Montiel afirmou que tentou matar a peronista como um “ato de justiça”. A promotora por trás da acusação, Gabriela Baigún, porém, não conseguiu incluir a denúncia de suposta motivação política do crime nas acusações.