Jornalista russo Nobel da Paz diz que Navalny foi assassinado
Morte de crítico ao Kremlin foi anunciada nesta sexta-feira pelo serviço penitenciário da região de Yamalo-Nenets
O jornalista russo Dmitry Muratov, vencedor do Nobel da Paz de 2021, classificou a morte de Alexei Navalny, um dos mais proeminentes críticos ao Kremlin, como um “assassinato”. O comentário foi feito à agência de notícias Reuters pouco depois do anúncio do serviço penitenciário da região de Yamalo-Nenets, na Rússia, onde Navalny cumpria pena há cerca de três anos.
“Navalny sentiu-se mal após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência. A equipe médica chegou imediatamente e uma equipe de ambulância foi chamada. Foram realizadas medidas de reanimação que não produziram resultados positivos. Os paramédicos confirmaram a morte do condenado. As causas da morte estão sendo apuradas”, disse o comunicado oficial.
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O governo russo disse ainda não ter nenhuma informação sobre a causa da morte de um dos principais adversários políticos do presidente Vladimir Putin.
Muratov venceu o Nobel — por seu trabalho como editor-chefe do jornal independente russo Novaya Gazeta — juntamente com a jornalista filipina Maria Ressa, cofundadora do site de notícias on-line Rappler. Ambos são conhecidos por publicar investigações que irritam os governos de seus países e se tornaram símbolos na luta pela liberdade de expressão.
Criado em 1993, após a queda da União Soviética, o Novaya Gazeta era visto como o último grande reduto da imprensa livre na Rússia, mas vinha sofrendo pressões constantes do Roskomnadzor, órgão responsável pela supervisão dos meios de comunicação no país, e fechou as portas em 2022.
Maior veículo de oposição ao governo de Vladimir Putin, o jornal investigativo teve seis de seus funcionários mortos desde sua fundação, em 1993. O caso de maior repercussão foi o da jornalista Anna Politkovskaya, assassinada em 2006, época em que preparava um artigo sobre tortura e sequestros na Chechênia.
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Navalny
Navalny é um ex-advogado e tornou-se mundialmente conhecido há pouco mais de uma década por fazer críticas abertas contra Putin, por ter sido supostamente envenenado por homens do Kremlin e por expor uma suspeita rede de corrupção dentro do governo russo. Na década de 2010, quando ainda morava em sua terra natal, liderou um movimento contra o líder russo que levou milhares de pessoas às ruas do país.
O ativista foi detido por forças russas em janeiro de 2021 depois de retornar da Alemanha, onde foi tratado pela suspeita de envenenamento. Ele foi condenado a nove anos de prisão por fraude, mas depois os tribunais russos aplicaram uma nova pena por “extremismo”, elevando a sentença para quase 30 anos. Ele também foi imputado por desrespeitar o Judiciário.
O ativista, por sua vez, acusava o governo russo de censura e de forjar provas para incriminá-lo.