Jornalista russo morre em circunstâncias ‘misteriosas’
Maxim Borodin é encontrado após cair da janela; jornalista havia feito reportagem sobre mercenários russos mortos na Síria
Um jornalista investigativo russo morreu ao cair da janela de seu apartamento em circunstâncias não esclarecidas na cidade de Yekaterimburgo, cerca de 1.700 quilômetros a leste de Moscou. Maxim Borodin, de 32 anos, foi encontrado ferido por seus vizinhos na sexta-feira (13) e morreu no último domingo.
A polícia afirmou que não havia sinais de arrombamento no apartamento de Borodin e a porta estava trancada por dentro, o que descarta a entrada de alguém de fora. Ainda assim, amigos acreditam que sua morte é suspeita.
O jornalista trabalhava no jornal Novy Den e escreveu recentemente sobre a morte de mercenários russos agindo na Síria. Segundo suas investigações, o grupo de mercenários teria morrido durante um confronto com forças americanas em 7 de fevereiro. A Rússia confirmou a morte de dezenas de russos –muitos outros ficaram feridos. Segundo o país, eles não eram parte do exército nacional em atividade na Síria.
Na semana passada, o então diretor da CIA, Mike Pompeo, informou que cerca de 200 mercenários russos tinham morrido em confronto na província de Deir al-Zour. Segundo ele, o grupo agia em conjunto com o governo sírio.
Um amigo de Borodin, o ativista de direitos humanos Vyacheslav Bashkov, foi ouvido por jornais ingleses, contando que o jornalista o procurara às 5 da manhã do dia 11 de abril para dizer que vira “alguém com uma arma na varanda e pessoas com camuflagem e máscaras na escadaria”. O repórter cogitou procurar um advogado, mas depois voltou atrás afirmando que as pessoas tinham ido embora. Bashkov não teve mais contato com Borodin.
“Qualquer jornalista envolvido em trabalho perigoso tem uma lista de números para ligar caso se encontrem em apuros e Maxim tinha o meu”, disse Bashkov ao The Independent. “Ele pensou que eu seria capaz de encontrar um advogado para ele.”
Para o ativista, a única explicação para a morte do repórter é devido ao seu trabalho. Borodin com frequência escrevia sobre violência e corrupção.
A editora do jornal em que Borodin trabalhava, Polina Rumyantseva, afirmou que não havia motivos para o jornalista se suicidar. De fato, nenhuma carta de suicídio foi encontrada no apartamento.
A liberdade de imprensa é limitada na Rússia de acordo com o índice de avaliação Freedom House. Em uma escala que vai de 0 a 100 pontos –0 significa máxima liberdade e 100 mínima–, o país marca 83. Segundo o índice, a Rússia possui uma grande variedade de meios de comunicação, mas uma cobertura limitada e pouco independente.
No mesmo dia em que Borodin foi encontrado morto, um editor de um jornal regional foi agredido. Em 2006, uma famosa jornalista russa que expôs abusos de direitos humanos do país na Chechênia foi morta a tiros.