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Jogo de forças mundial: as guerras que continuam em 2019

Conflitos na Síria, Afeganistão, Iêmen e em pelo menos outros cinco países gerarão mais tragédias, miséria e instabilidade

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h06 - Publicado em 14 dez 2018, 10h00

Longe da sonhada paz, 2019 herdará pelo menos oito das maiores guerras e conflitos armados em curso, com seus graus de complexidade elevados pela interferência de potências regionais e mundiais. O quadro para o próximo ano será tão intrincado para a diplomacia e doloroso para as populações civis envolvidas quanto o registrado em 2018.

A guerra na Síria, que se tornou ainda mais violenta e complicada com o envolvimento da Rússia, dos Estados Unidos, do Irã, da Turquia e de outros atores, é exemplo do emaranhado de interesses que dificulta a paz. O embate em solo sírio compõe um cenário de Guerra Fria em tempos modernos, com dois grandes polos que competem entre si por meio do fornecimento de armas, treinamentos militares e violentos bombardeios.

A participação desses atores externos torna os diálogos de paz complexos e dificulta a busca pelo consenso, uma vez que mais ambições estão postas na mesa de negociações. O patrocínio de grupos armados e de Exércitos por nações rivais também tende a aumentar a agressividade e o número de mortes, assim como a prolongar os embates.

Segundo Therese Pettersson, coordenadora de projetos do Programa de Dados sobre Conflitos da Universidade de Uppsala (UCDP), da Suécia, a interferência de outras nações e o complexo cenário geopolítico atual dificultam o trabalho de organizações internacionais que trabalham pela paz, como as Nações Unidas.

“Na Síria, por exemplo, Rússia e Estados Unidos representam lados opostos da disputa, e os russos bloquearam todas as propostas de paz discutidas na ONU”, afirma.

Frentes de batalha

É difícil estimar o impacto dos principais conflitos mundiais na vida dos cidadãos locais. Diversas organizações e centros de pesquisa trabalham com estimativas do número de mortos deixados pelos embates na Síria, no Afeganistão, nos territórios palestinos e em outros cenários de guerra. Porém, os dados divulgados ainda têm se mostrado incertos.

O que se sabe, contudo, é que as guerras motivadas por interesses econômicos, políticos e religiosos já resultaram em milhões de vítimas desde o início do século XXI.

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A seguir, confira levantamento dos principais conflitos que devem agitar o cenário mundial em 2019 e entenda quais são os principais interesses e atores envolvidos nesse brutal jogo de forças.

Risco de ignição

Além desses conflitos armados ativos, 2019 deve ser marcado por uma série de disputas políticas com potencial para se transformarem em ameaças reais de violência. É o caso das tensões na Península Coreana, que se prolongam desde a década de 1950.

O ditador norte-coreano Kim Jong-un mostrou-se aberto ao diálogo com a Coreia do Sul e à redução dos testes com mísseis nucleares em 2018. Sua reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em junho passado, ainda não rendeu muitos frutos. Mas serviu para diminuir, pelo menos temporariamente, uma escalada de tensão – e insultos recíprocos – que poderia resultar em novo embate militar perigoso.

Na região do Mar Negro, a ameaça de um conflito armado se acentuou depois do acidente marítimo de novembro, quando navios ucranianos foram atacados e apreendidos pela Guarda Costeira da Rússia. Moscou acusa as embarcações de violação de suas águas territoriais e mantém 24 marinheiros de Kiev na prisão.

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Em resposta ao incidente, a Ucrânia instaurou o estado de exceção no país e restringiu o ingresso de homens russos entre 16 e 60 anos em seu território. Potências de todo o mundo e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) exigiram a libertação imediata dos soldados presos pela Rússia.

A região foi palco de violento conflito em 2014, quando Moscou anexou a ucraniana Crimeia ao seu território. As tensões aumentaram com a construção de uma ponte que une a península à Rússia, a mando do presidente russo, Vladimir Putin.

Desde então, as forças russas redobraram as inspeções dos navios ucranianos no Mar Negro. A medida foi considerada por Kiev como um bloqueio, de fato, a seus portos na região. Além disso, a Rússia vem apoiando manifestantes separatistas no leste da Ucrânia há anos, alimentando um potencial conflito armado e a instabilidade do governo de Kiev.

“Uma escalada no conflito com a Ucrânia depende muito das ações russas”, afirma a coordenadora do UCDP. “Este é o risco com todos os conflitos que estão temporariamente controlados. A ignição certa pode fazer tudo estourar”.

Gangues e crime organizado

A violência de gangues e do crime organizado na América Latina também tem sido motivo de preocupação para os governos locais há anos e de terror e miséria para os civis. Segundo o UCPD, mais de 20.700 pessoas morreram no México desde 1989 em consequência desse tipo de conflito.

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Outras nações latino-americanas, como Guatemala, Honduras e El Salvador, também enfrentam os mesmos problemas cotidianamente. A situação é tão grave que milhares de pessoas têm deixado suas casas em caravanas em busca de refúgio nos Estados Unidos.

No início de novembro, segundo a ONU, ao menos 7.500 pessoas marchavam em direção à fronteira americana com o México. Os migrantes têm sido impedidos de entrar nos Estados Unidos pelas políticas rígidas do presidente americano, Donald Trump, e não há nenhum indício de que os conflitos em suas terras natais irão se abrandar no próximo ano.

No Brasil, o combate ao tráfico de drogas e armas e à violência, em geral, obrigou governo de Michel Temer a decretar intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018. O presidente eleito Jair Bolsonaro confirmou que não irá prorrogar essa intervenção em 2019. Mas os temores em relação à segurança pública não só no Rio de Janeiro, mas em outros estados brasileiros, devem continuar a fazer parte da vida dos cidadãos.

Opressão e crise humanitária

Na América Latina, além da violência de gangues (maras), milhões de cidadãos vivem sob a constante opressão de seus próprios governos. É o caso da Nicarágua, que em 2018 foi palco de uma violenta repressão comandada pelo seu presidente, Daniel Ortega.

Desde abril, ao menos 325 pessoas morreram e outras 2.000 ficaram feridas durante uma série de protestos contra o governo, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A organização descobriu que a polícia nacional e grupos armados pró-Ortega foram responsáveis pela maioria das mortes.

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As tensões diminuíram no final de 2018, e tudo indica que o cenário deve continuar o mesmo no próximo ano. Mas a pressão do governo de Donald Trump em favor de imposição de sanções à Nicarágua pode voltar a trazer o conflito para as manchetes de todo o mundo.

Na Venezuela, não há sinal de mudança na liderança autoritária e repressora de Nicolás Maduro. O país vive graves crises econômica, política e humanitária, refletidas na perseguição a opositores, na escassez de alimentos e remédios e na taxa de inflação que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), chegará a 10.000.000% em 2019.

As crises forçaram cerca de 3 milhões de venezuelanos a emigrar desde 2015. Segundo a ONU, trata-se do movimento de população mais expressivo da história recente da América Latina. O cenário político-social mostra-se bastante preocupante para 2019.

Em um movimento para atrair rivais dos Estados Unidos a seu favor, Maduro aproxima-se cada vez mais da Rússia, da Turquia e da China que, de certa forma, garantem atualmente a sobrevivência econômica do regime.

Entre novembro e dezembro, Pequim impôs à Venezuela a necessidade de retomar projetos de aumento da produção petroleira – a moeda de troca de seus investimentos anteriores no país. Moscou anunciou injeção de recursos na área da mineração e se dispôs a realizar operações militares conjuntas – em seguida abortadas, por pressões americanas. Ancara prometeu toda a ajuda possível, com o cuidado de não detalhá-la.

 

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