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Jogo de forças mundial: as guerras que continuam em 2019

Conflitos na Síria, Afeganistão, Iêmen e em pelo menos outros cinco países gerarão mais tragédias, miséria e instabilidade

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 dez 2018, 10h23 - Publicado em 14 dez 2018, 10h00

Longe da sonhada paz, 2019 herdará pelo menos oito das maiores guerras e conflitos armados em curso, com seus graus de complexidade elevados pela interferência de potências regionais e mundiais. O quadro para o próximo ano será tão intrincado para a diplomacia e doloroso para as populações civis envolvidas quanto o registrado em 2018.

A guerra na Síria, que se tornou ainda mais violenta e complicada com o envolvimento da Rússia, dos Estados Unidos, do Irã, da Turquia e de outros atores, é exemplo do emaranhado de interesses que dificulta a paz. O embate em solo sírio compõe um cenário de Guerra Fria em tempos modernos, com dois grandes polos que competem entre si por meio do fornecimento de armas, treinamentos militares e violentos bombardeios.

A participação desses atores externos torna os diálogos de paz complexos e dificulta a busca pelo consenso, uma vez que mais ambições estão postas na mesa de negociações. O patrocínio de grupos armados e de Exércitos por nações rivais também tende a aumentar a agressividade e o número de mortes, assim como a prolongar os embates.

Segundo Therese Pettersson, coordenadora de projetos do Programa de Dados sobre Conflitos da Universidade de Uppsala (UCDP), da Suécia, a interferência de outras nações e o complexo cenário geopolítico atual dificultam o trabalho de organizações internacionais que trabalham pela paz, como as Nações Unidas.

“Na Síria, por exemplo, Rússia e Estados Unidos representam lados opostos da disputa, e os russos bloquearam todas as propostas de paz discutidas na ONU”, afirma.

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Frentes de batalha

É difícil estimar o impacto dos principais conflitos mundiais na vida dos cidadãos locais. Diversas organizações e centros de pesquisa trabalham com estimativas do número de mortos deixados pelos embates na Síria, no Afeganistão, nos territórios palestinos e em outros cenários de guerra. Porém, os dados divulgados ainda têm se mostrado incertos.

O que se sabe, contudo, é que as guerras motivadas por interesses econômicos, políticos e religiosos já resultaram em milhões de vítimas desde o início do século XXI.

A seguir, confira levantamento dos principais conflitos que devem agitar o cenário mundial em 2019 e entenda quais são os principais interesses e atores envolvidos nesse brutal jogo de forças.

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Risco de ignição

Além desses conflitos armados ativos, 2019 deve ser marcado por uma série de disputas políticas com potencial para se transformarem em ameaças reais de violência. É o caso das tensões na Península Coreana, que se prolongam desde a década de 1950.

O ditador norte-coreano Kim Jong-un mostrou-se aberto ao diálogo com a Coreia do Sul e à redução dos testes com mísseis nucleares em 2018. Sua reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em junho passado, ainda não rendeu muitos frutos. Mas serviu para diminuir, pelo menos temporariamente, uma escalada de tensão – e insultos recíprocos – que poderia resultar em novo embate militar perigoso.

Na região do Mar Negro, a ameaça de um conflito armado se acentuou depois do acidente marítimo de novembro, quando navios ucranianos foram atacados e apreendidos pela Guarda Costeira da Rússia. Moscou acusa as embarcações de violação de suas águas territoriais e mantém 24 marinheiros de Kiev na prisão.

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Em resposta ao incidente, a Ucrânia instaurou o estado de exceção no país e restringiu o ingresso de homens russos entre 16 e 60 anos em seu território. Potências de todo o mundo e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) exigiram a libertação imediata dos soldados presos pela Rússia.

A região foi palco de violento conflito em 2014, quando Moscou anexou a ucraniana Crimeia ao seu território. As tensões aumentaram com a construção de uma ponte que une a península à Rússia, a mando do presidente russo, Vladimir Putin.

Desde então, as forças russas redobraram as inspeções dos navios ucranianos no Mar Negro. A medida foi considerada por Kiev como um bloqueio, de fato, a seus portos na região. Além disso, a Rússia vem apoiando manifestantes separatistas no leste da Ucrânia há anos, alimentando um potencial conflito armado e a instabilidade do governo de Kiev.

“Uma escalada no conflito com a Ucrânia depende muito das ações russas”, afirma a coordenadora do UCDP. “Este é o risco com todos os conflitos que estão temporariamente controlados. A ignição certa pode fazer tudo estourar”.

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Gangues e crime organizado

A violência de gangues e do crime organizado na América Latina também tem sido motivo de preocupação para os governos locais há anos e de terror e miséria para os civis. Segundo o UCPD, mais de 20.700 pessoas morreram no México desde 1989 em consequência desse tipo de conflito.

Outras nações latino-americanas, como Guatemala, Honduras e El Salvador, também enfrentam os mesmos problemas cotidianamente. A situação é tão grave que milhares de pessoas têm deixado suas casas em caravanas em busca de refúgio nos Estados Unidos.

No início de novembro, segundo a ONU, ao menos 7.500 pessoas marchavam em direção à fronteira americana com o México. Os migrantes têm sido impedidos de entrar nos Estados Unidos pelas políticas rígidas do presidente americano, Donald Trump, e não há nenhum indício de que os conflitos em suas terras natais irão se abrandar no próximo ano.

No Brasil, o combate ao tráfico de drogas e armas e à violência, em geral, obrigou governo de Michel Temer a decretar intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018. O presidente eleito Jair Bolsonaro confirmou que não irá prorrogar essa intervenção em 2019. Mas os temores em relação à segurança pública não só no Rio de Janeiro, mas em outros estados brasileiros, devem continuar a fazer parte da vida dos cidadãos.

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Opressão e crise humanitária

Na América Latina, além da violência de gangues (maras), milhões de cidadãos vivem sob a constante opressão de seus próprios governos. É o caso da Nicarágua, que em 2018 foi palco de uma violenta repressão comandada pelo seu presidente, Daniel Ortega.

Desde abril, ao menos 325 pessoas morreram e outras 2.000 ficaram feridas durante uma série de protestos contra o governo, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A organização descobriu que a polícia nacional e grupos armados pró-Ortega foram responsáveis pela maioria das mortes.

As tensões diminuíram no final de 2018, e tudo indica que o cenário deve continuar o mesmo no próximo ano. Mas a pressão do governo de Donald Trump em favor de imposição de sanções à Nicarágua pode voltar a trazer o conflito para as manchetes de todo o mundo.

Na Venezuela, não há sinal de mudança na liderança autoritária e repressora de Nicolás Maduro. O país vive graves crises econômica, política e humanitária, refletidas na perseguição a opositores, na escassez de alimentos e remédios e na taxa de inflação que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), chegará a 10.000.000% em 2019.

As crises forçaram cerca de 3 milhões de venezuelanos a emigrar desde 2015. Segundo a ONU, trata-se do movimento de população mais expressivo da história recente da América Latina. O cenário político-social mostra-se bastante preocupante para 2019.

Em um movimento para atrair rivais dos Estados Unidos a seu favor, Maduro aproxima-se cada vez mais da Rússia, da Turquia e da China que, de certa forma, garantem atualmente a sobrevivência econômica do regime.

Entre novembro e dezembro, Pequim impôs à Venezuela a necessidade de retomar projetos de aumento da produção petroleira – a moeda de troca de seus investimentos anteriores no país. Moscou anunciou injeção de recursos na área da mineração e se dispôs a realizar operações militares conjuntas – em seguida abortadas, por pressões americanas. Ancara prometeu toda a ajuda possível, com o cuidado de não detalhá-la.

 

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