O Tribunal Distrital de Kyoto, no Japão, condenou nesta quinta-feira, 25, um homem à morte pelo incêndio criminoso no estúdio de animação KyoAni, ocorrido em 2019. Shinji Aoba, de 45 anos, declarou-se culpado pelo incidente que matou 36 pessoas e feriu outras dezenas, mas seus advogados apelaram por uma pena mais branda por “incompetência mental”. O presidente da corte, Keisuke Masuda, no entanto, descartou os pedidos da defesa.
“Determinei que o réu não era mentalmente insano ou fraco no momento do crime”, declarou à emissora japonesa NHK. “A morte de 36 pessoas é extremamente grave e trágica. O medo e a dor das vítimas falecidas foram indescritíveis.”
Aoaba acreditava que o estúdio de animação plagiou um romance escrito por ele que havia sido inscrito em um concurso da empresa. Motivado pela vingança, ele invadiu as instalações em julho de 2019, no horário de trabalho das equipes, e jogou gasolina no térreo. Em seguida, iniciou um incêndio enquanto gritava “caiam mortos”, de acordo com relatos dos sobreviventes. Em setembro do ano passado, o japonês argumentou que não sabia que tantas pessoas morreriam e assumiu a culpa pelo ataque.
“Senti que não tinha outra opção senão fazer o que fiz”, justificou, na ocasião. “Sinto muito e o sentimento inclui um sentimento de culpa.”
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Crime chocante
Cerca de 70 funcionários, de maioria jovens artistas, ficaram encurralados nos andares superiores do estúdio a medida que as chamas avançavam. Várias vítimas tentaram fugir por uma escada em espiral, que levava ao telhado, mas não conseguiram escapar por estarem intoxicadas e enfraquecidas pela fumaça.
A promotoria exigiu pena de morte e afirmou que o criminoso estava plenamente consciente das suas ações. Aoba teve mais de 90% do corpo queimado e foi submetido a 12 operações. Ele também passou por seis meses de avaliações psiquiátricas antes que fossem apresentadas acusações formais, que incluíam homicídio, tentativa de homicídio e incêndio criminoso. Após anos de espera, o juiz leu um longo texto que incluía depoimentos de sobreviventes e apresentou seu veredito.
“O ato de derramar uma enorme quantidade de gasolina e atear fogo é extremamente provável que seja letal, e imolar pessoas é verdadeiramente cruel e desumano”, disse Masuda, durante a sua decisão. “[As vítimas] foram engolfadas pelo fogo e pela fumaça num piscar de olhos. (…) Tiveram uma morte agonizante quando o estúdio subitamente pegou fogo.”
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Pena de morte
A contragosto de grupos de direitos humanos, o Japão mantém a pena capital para crimes de maior gravidade, como é o caso de homicídios com múltiplas vítimas. Os condenados podem permanecer no corredor da morte por anos ou décadas antes de serem enforcados. Grande parte da população apoia essa forma de punição.
Segundo a agência de notícias AFP, a última execução foi realizada em 2022 e 107 pessoas aguardam pela aplicação da pena. Em 2018, em uma das mais notórias execuções, 13 pessoas foram enforcadas em razão do ataque com gás sarin no metrô de Tóquio, em 1995, que deixou 13 vítimas e mais de 5 mil pessoas feridas. Os criminosos pertenciam à seita Aum Shinrikyo e carregavam um antídoto para não sentir os efeitos. A toxina, que não tem cor ou cheiro, causa sufocamento e problemas de visão.