O governo israelense aprovou neste domingo, 25, uma sanção ao jornal Haaretz, o mais antigo do país, por sua cobertura crítica da guerra com o Hamas na Faixa de Gaza, bem como por declarações controversas de seu editor, Amos Schocken. A medida inclui o cancelamento de publicidade estatal e de assinaturas pagas para funcionários públicos, intensificando o confronto entre o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e a imprensa independente.
A proposta, apresentada pelo ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, obriga órgãos públicos a suspender qualquer vínculo financeiro com o veículo. Karhi justificou a decisão afirmando que o Haaretz “prejudicou a legitimidade do Estado de Israel no mundo e seu direito à autodefesa” ao publicar reportagens que questionavam ações das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) em Gaza e no Líbano. Ele também citou um discurso de Schocken pedindo sanções contra líderes israelenses.
Declarações polêmicas
Os comentários de Schocken em questão foram feitos em um evento em Londres no mês passado. Ele se referiu a membros do Hamas “combatentes pela liberdade palestinos”, termo que foi interpretado de forma negativa por minimizar ataques terroristas. Posteriormente, o editor esclareceu que a expressão não se referia ao grupo que invadiu Israel a mais de um ano, mas aos palestinos que vivem sob ocupação na Cisjordânia. Mesmo assim, ele reconheceu que foi inadequado empregar o termo para militantes que atacam civis de forma deliberada.
Durante o discurso, Schocken também defendeu sanções contra Israel, líderes do governo que se opõem à criação de um Estado palestino e os colonos judeus em territórios palestinos ocupados. Ele acusou o governo Netanyahu de impor um “regime cruel de apartheid à população palestina” e descreveu as ações militares Gaza como uma “segunda Nakba”. O termo, que significa “catástrofe”, refere-se à fuga ou expulsão de 750 mil palestinos que veio a se tornar o Estado israelense no período entre 1947 e 1949.
O que diz o Haaretz
Em resposta à sanção, o Haaretz afirmou que a gestão do atual premiê ataca a liberdade de imprensa. “Assim como (Vladimir) Putin, (Recep) Erdogan e (Viktor) Orbán, Netanyahu está tentando silenciar um jornal crítico e independente. Não recuaremos”, declarou o veículo em nota, referindo-se aos líderes da Rússia, Turquia e Hungria, respectivamente, que vêm centralizando o poder e são acusados de reprimir críticos.
O jornal também classificou a medida como parte de um esforço mais amplo para “desmantelar a democracia israelense”.