As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram nesta terça-feira, 7, ter capturado o lado palestiniano da passagem de Rafah, na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, única porta de entrada de ajuda humanitária no enclave onde a população sofre com escassez de alimentos e outros insumos básicos. O avanço israelense ocorreu um dia após seu exército comandar a retirada de mais de 100 mil civis da cidade no sul de Gaza e iniciar bombardeios contra o que considera o último reduto significativo do Hamas, na marca de sete meses de guerra contra o grupo terrorista palestino.
“Neste momento, temos controle operacional do lado de Gaza da passagem de Rafah e nossas forças especiais vigiam a passagem”, disseram os militares israelenses.
O porta-voz da autoridade de Gaza na fronteira com o Egito também confirmou a presença de tanques israelenses na passagem de Rafah. Autoridades humanitárias na região disseram que o fluxo de insumos através da passagem foi interrompido.
Cessar-fogo em negociação
A operação israelense em Rafah ocorre antes de uma nova rodada de negociações sobre um cessar-fogo em Gaza, que acontecerão no Cairo.
Na segunda-feira 6, o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, comunicou que o grupo aceitou a última proposta de um acordo sobre a trégua. Já as autoridades israelenses indicaram que os termos do plano não atendem às suas principais demandas, mas disseram que enviarão uma delegação à capital egípcia.
A proposta é complexa. Envolve três fases consecutivas, com proporções diferentes de trocas de detentos palestinos em prisões israelenses por reféns do Hamas, bem como a retirada de forças israelenses de certas zonas de Gaza. Analistas avaliam que finalizar o acordo pode levar muitos dias, ou até semanas.
Operação em Rafah
Na segunda-feira, as Forças de Defesa de Israel (FDI) ordenarem que cerca de 100 mil palestinos deixem Rafah, no sul da Faixa de Gaza, sinalizando que uma esperada invasão terrestre ao local poderia ser iminente.
A possibilidade de uma operação ampla na cidade, que abriga mais de 1 milhão de pessoas, muitas deslocadas do norte do enclave devido à guerra, gerou uma avalanche de críticas internacionais no último mês pelo risco de um elevado número de mortes de civis – e por complicar ainda mais as negociações com o grupo terrorista palestino Hamas por um cessar-fogo.
O tenente-coronel Nadav Shoshani, um porta-voz do exército, disse que cerca de 100 mil pessoas receberam ordens por meio de panfletos lançados de aviões, mensagens de texto e transmissões de rádio para se encaminharem a uma zona humanitária próxima chamada Muwasi – um campo de refugiados improvisado, criado por Israel, com tendas ao longo da costa.
Reduto do Hamas
O exército de Israel disse em publicação no X, antigo Twitter, que agiria com “força extrema” contra os militantes e instou a população de Rafah a deixar a região imediatamente para sua segurança.
Segundo o exército israelense, Rafah é o último reduto significativo do Hamas após sete meses de guerra, defendendo que a invasão é necessária para derrotar os terroristas que desencadearam o conflito atual com um ataque a Israel em 7 de outubro do ano passado. Na madrugada desta segunda-feira, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse ao secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, que não tinha escolha senão invadir a cidade de Gaza.
Cerca de 1,4 milhões de palestinos – mais de metade da população de Gaza – estão encurralados em Rafah e em seus arredores. A maioria fugiu de suas casas no norte do enclave para escapar dos ataques de Israel, e grande parte habita acampamentos lotados e abrigos das Nações Unidas e dependem das remessas de auxílio internacional para obter alimentos.
Além disso, a passagem de Rafah, no Egito, principal ponto de transferência de ajuda humanitária para Gaza, encontra-se na zona de evacuação. Por enquanto, o posto na fronteira continua aberto, mas não está claro até quando isso será possível.
Reações
Os aliados mais próximos de Israel, incluindo os Estados Unidos, reiteraram repetidamente que as FDI não deveriam atacar Rafah. Num telefonema na segunda-feira, o presidente americano, Joe Biden, pressionou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a não prosseguir com uma ofensiva em grande escala, na ausência de um plano credível para proteger os civis palestinos.
A agência das Nações Unidas que atende os refugiados palestinos, a UNWRA, afirmou que não cumpriria a ordem de retirada dos civis. Juliette Touma, diretora de comunicações do órgão, que tem milhares de funcionários na cidade, disse que não tem planos de realizar nenhuma operação para esvaziar a área.
Já Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados, condenou a ordem de evacuação “forçada e ilegal” e a ideia de que os palestinos deveriam ir para Muwasi. “A área já está sobrecarregada e desprovida de serviços vitais”, justificou.