Israel coloca 10 de março, início do Ramadã, como prazo para invadir Rafah
Segundo membro do conselho de guerra, Hamas tem até essa data para libertar reféns israelenses
Membro do gabinete de guerra e ex-ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz afirmou no domingo, 18, que o grupo militante palestino Hamas tem até 10 de março, data que coincide com o início do Ramadã, mês sagrado islâmico, para libertar todos os reféns israelenses. Caso contrário, será lançada a já anunciada ofensiva contra Rafah, cidade ao sul que abriga cerca de 1,5 milhão de deslocados internos da guerra em Gaza.
Chefes militares acreditam que podem prejudicar significativamente as capacidades restantes do Hamas nesse período, abrindo caminho para uma mudança para uma fase de menor intensidade de ataques aéreos direcionados e operações de forças especiais, disseram à agência de notícias Reuters dois oficiais israelenses e dois oficiais regionais.
Mesmo com as críticas internacionais, há poucas chances de o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, cancelar a incursão em Rafah, disse à Reuters o ex-oficial de inteligência Avi Melamad, que participou de negociações com grupos palestinos nas décadas de 1980 e 2000.
“Rafah é o último bastião do controle do Hamas e ainda restam batalhões em Rafah que Israel deve desmantelar para alcançar seus objetivos nessa guerra”, disse.
Na semana passada. o chefe de assuntos humanitários das Nações Unidas, Martin Griffiths, alertou que um ataque terrestre de Israel contra Rafah poderia levar a um “massacre”. Segundo ele, Gaza já estava sofrendo um “ataque sem paralelo em sua intensidade, brutalidade e alcance”, mas as consequências de uma invasão de Rafah seriam ainda mais “catastróficas”.
De acordo com o funcionário da ONU, mais de 1 milhão de pessoas estão “amontoadas em Rafah, encarando a morte de frente” e nenhuma delas tem “qualquer lugar seguro para ir”. Referindo-se à assistência das Nações Unidas aos palestinos, Griffiths acrescentou que uma invasão israelense “deixaria a operação humanitária já frágil à beira da morte”.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse nesta sexta-feira, 16, que as Forças de Defesa de Israel (IDF) estavam planejando operações em Rafah visando a combatentes, centros de comando e túneis do Hamas, embora não tenha dado um cronograma para a campanha. Segundo ele, “medidas extraordinárias” estavam sendo tomadas para evitar mortes de mais civis.
“Havia 24 batalhões regionais em Gaza, desmantelamos 18 deles”, disse ele numa conferência de imprensa. “Agora, Rafah é o próximo centro de gravidade do Hamas.”
Com uma elevada tensão diplomática, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou duas vezes a Netanyahu para alertar que a operação militar em Rafah sem um plano para garantir a segurança dos civis geraria consequências alarmantes para a região. Em resposta, Netanyahu disse que os civis seriam autorizados a deixar a zona de batalha antes da ofensiva, mesmo tendo prometido “vitória completa”.
O Egito, que havia deixado clara sua oposição de receber mais refugiados palestinos em meio à guerra, parece ter cedido ao inevitável. Imagens de satélite divulgadas na madrugada da última sexta-feira mostram que o país parece estar preparando uma área na fronteira com o enclave palestino para receber um possível êxodo de pessoas diante da iminente invasão.
Oficialmente, o país negou ter feito quaisquer preparativos para receber refugiados palestinos. Cairo justifica que sua oposição ao deslocamento dos habitantes da Faixa de Gaza faz parte de uma rejeição mais ampla, compartilhada por diversas nações árabes, a uma repetição da “Nakba”, ou “catástrofe”, quando cerca de 700 mil palestinos foram forçados a abandonar suas casas na guerra que rodeou a criação de Israel, em 1948.